O problema não são algumas pessoas ganharem mais do que outras, o problema são algumas pessoas ganharem muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitíssimo mais do que outras pessoas!
A desigualdade entre as classes sociais possui um limite, a história tem demonstrado que quando uma classe se torna demasiadamente forte e dominante há um desiquilíbrio que tenderá a um rompimento do tecido social, normalmente através de pressão popular que pode desembocar em revoluções. Esse rompimento muitas vezes não possui uma proposta inicial própria para sair do enrosco, é como um animal acuado que sem alternativa parte para cima de seu predador e algumas vezes se dá bem, e no momento seguinte esses movimentos vencedores e quase sempre disformes podem espelhar-se naquilo que ocorre ou ocorreu em outros países e por aí percorre-se um caminho que será copiado ou referenciado.
Jean-Jacques Rousseau escreveu o “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”, conhecido como segundo discurso (1754). Neste texto as desigualdades humanas são explicadas através da problemática da propriedade privada e da própria evolução da civilização humana em si, para Rousseau o homem nasce puro e é corrompido ao longo de sua trajetória, escreveu: “… o homem selvagem…..Seus desejos não excedem suas necessidades físicas”. e escreveu: “O homem nasce livre e por toda parte encontra-se acorrentado”. Esse Discurso de certa forma deu origem aos novos princípios que foram assumidos pela Revolução Francesa, Liberté, Égalité, Fraternité (liberdade, igualdade, fraternidade). A Revolução Francesa nasce da desigualdade entre classes sociais, substitui-se a monarquia, a aristocracia e a igreja católica, pela república democrática (1789 – 1799).
O problema da desigualdade é muito antigo, todavia, David Ricardo e Karl Marx apontaram no século XIX para ele com maior atenção científica, embora tivessem errado em suas previsões catastróficas.
Ricardo discutia a escassez da terra e a visão que um grupo de latifundiários iria dominar o planeta. E Marx apontava sua mira para os capitalistas industriais que se apropriariam dos ganhos do capital. Foram importantes contribuições, e se hoje temos outros pontos de vista, é porque subimos nos ombros desses visionários e podemos enxergar mais longe.
Em 1917 a Revolução Russa foi uma quebra do paradigma da sociedade à época, os todos poderosos czaristas deixaram explodir um movimento de libertação, com consequências mundo afora, inclusive no Brasil. Por aqui Getúlio Vargas anos mais tarde para manter o capitalismo e não ceder ao comunismo, criou leis para proteção do trabalhador que até hoje (2017) travam o desenvolvimento do país, e elevam os custos das PME´s. Naquela época criou-se o fantasma do comunismo, e os sindicatos ganharam muita força política. As classes sociais ocidentais oprimidas flertaram com o comunismo, que em tese parece ser um regime ideal e igualitário, se não fosse por um pequeno detalhe, o ser humano que consegue burlá-lo em sua essência.
Em 1953, Kuznets publicou um estudo direcionado para a desigualdade, e também lapida esse estudo com a “curva de Kuznets” a qual se assemelha a um sino. Tratou de uma era da industrialização, anos dourados e nem sempre o mundo capitalista foi assim.
E aí veio a tecnologia e mudou o mundo e muitas das premissas catastróficas que preocupavam a humanidade deixaram de ter importância. As grandes fortunas foram para as mãos de gente como Gates, Zuckerberg, Larry Ellison, etc… Infelizmente aqui no Brasil a tecnologia, talvez, por questões políticas, não consegue disponibilizar para os cientistas dados suficientes para uma análise local com precisão sobre a desigualdade, qual seja, detalhar essa desigualdade, fatiá-la por extratos sociais e melhor entender suas causas.
Em 2015 passou pelo Brasil o professor francês Thomas Piketty que fez um extenso e profundo trabalho sobre a desigualdade mundial, mas o Brasil ficou de fora dessa pesquisa por falta de dados. Esse trabalho está retratado no livro “O Capital no Século XXI”.
Se o mundo mudou o princípio da escassez não mudou. Marx publicou O Capital em 1867, 50 anos após Princípios de Ricardo, o mundo já havia mudado para o mundo das máquinas, da produção seriada. Kuznets esteve diante de anos dourados de crescimento! Piketty lidou com a tecnologia, o prato dos nossos dias.
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
…………………….
Carlos Drummond – Poesia – José.
Aqui na terra dos Tupiniquins, o que fazer para diminuir as desigualdades? O Dr Zero Cost não sabe, mas um começo seria saber detalhes dessa desigualdade, um órgão como IBGE com dados mais acessíveis, um cruzamento com a Receita Federal, e aí, sem paixonites partir para um plano e execução….continua no próximo domingo no artigo 02/02.
Desigualdade Mundial. (artigo 02/02), continuando….
Um primeiro passo para diminuir a desigualdade no Brasil foi dado em 1994 ali em fevereiro tivemos a semente do plano real, e mesmo tendo seus méritos de ter conseguido baixar a inflação, não derrubou os juros. Apesar dos juros altos o controle da inflação é um marco histórico na economia brasileira, essa foi uma das variáveis que possibilitaram a ascensão da classe pobre no primeiro mandato do presidente Lula. Ou seja, os trabalhadores tiveram aumento real, segundo Monica De Bolle “Desde 2006, o salário mínimo no Brasil é reajustado anualmente de acordo com a soma do crescimento da economia de dois anos antes com a inflação do ano anterior. Em 2012, o salário mínimo aumentou 14% devido a essa regra, o que, com a formalização crescente do mercado de trabalho no Brasil, ajudou várias famílias a sair da pobreza e/ou entrar na classe média. Esses são respectivamente, os 36 milhões e os 44 milhões de indivíduos sobre os quais falava a presidente quando precisava dar ênfase ao legado dos governos petistas”.
Ocorre-me nesse parágrafo mencionar Fernando Henrique Cardoso – FHC, ele já demonstrou em várias oportunidades sua admiração por Nabuco, então, o fato de eventualmente você pertencer a uma classe privilegiada não o exime de lutar pela diminuição da desigualdade. Sobre Nabuco, FHC, escreveu “..embora Nabuco fosse rebento excelso da aristocracia … e tivesse gosto pelo estilo de vida próprio desta camada, seu espírito corria solto, …. não negava a importância e o papel das classes e de suas lutas na história, acreditava ser o específico da intelectualidade: a capacidade de olhar o conjunto, ….”. Nabuco lutou contra a escravidão, etc.. e é um daqueles poucos que pensaram o Brasil. Em outro parágrafo FHC escreveu: “Nabuco concebia a luta contra a escravidão como uma luta pela cidadania. Junto com esta concepção havia outra muito forte,…….”a eliminação simultânea dos dois tipos contrários, e no fundo os mesmos: o escravo e o senhor””. Que tal? Cai um, cai o outro!
Mencionado Nabuco, se faz mister mencionar os jesuítas. A ordem dos jesuítas fundada em 1534 por Loiola esteve no Brasil desde o descobrimento, e a certa altura de suas missões conscientizaram-se que divulgar a “palavra” era pouco, e sua práxis exigiu o compromisso maior de transformar o mundo num lugar mais justo e com menores diferenças econômicas entre pessoas e nações. Lembrando que o Papa Francisco é um jesuíta, ou seja, pertence a Companhia de Jesus, e já canonizou o nosso padre Anchieta. E a ordem dos jesuítas é influente dentro do clero secular.
Dia desses recebi uma mensagem de uma amiga via Internet “se o mundo possuísse somente 100 habitantes representativos da população mundial atual”, uma das conclusões é que 6 pessoas deteriam 59% de toda riqueza dos 100 habitantes, e os 6 seriam americanos, e 80 pessoas viveriam em condições sub-humanas, não sei como foi feito esse cálculo, mas sei que a fórmula dos americanos é transpiração e foco. E não me venham com o discurso, somos um pais jovem, o capitão-mor Álvares Cabral chegou aqui em 1500 e o nome inspirador de Colômbia, o Colombo, chegou na América do Norte em 1492. 500 anos depois nos dois episódios vejam a situação?!?! Outro dia em conversa de bar, falamos: suponha que o Brasil invadisse os EUAs e ganhasse a guerra, como é que iriamos controlar os caras? Ohh Raimundo você vai viajar e sua missão será controlar a NASA! Que tal? E tem gente que diz que estudo não é importante!
Outro aspecto da nossa desigualdade está relacionado a nossa indústria, nós fabricamos de botão a avião, e começamos tardiamente 1930, isso nos torna ecléticos, mas não necessariamente competitivos. Nós sabemos que as indústrias IRM do Conde Francesco Matarazzo (colosso brasileiro) quebraram por se verticalizarem – o Conde exigia que 100% do processo estivesse sob seu guarda-chuva – fabricação própria – o Conde Francesco 1854/1937 escreveu: “O País deve ser agrícola e industrial; deve não apenas emancipar-se do exterior, mas também exportar o excesso de suas necessidades de consumo; nenhum produto deve pesar na sua balança como débito com os países estrangeiros, porque tudo o Brasil pode produzir”, então, de lá para cá o nome desse jogo mudou, e mudou para “COMPARTILHAMENTO”, cada um faz aquilo que é mais competitivo e através desta estratégia baixamos os custos da cadeia produtiva (GSC – Global Supply Chains).
Compartilhar é participar de, compartilhar é partilhar com alguém, mas compartilhar o que? Compartilhar linhas de produção, compartilhar pontos de vendas, compartilhar armazéns, compartilhar entregas de mercadorias, compartilhar funcionários, compartilhar áreas, localizar-se em “clusters” ou loteamentos empresariais ou condomínios para dividir custos comuns, enfim, conjugar o verbo compartilhar.
É preciso ser competente como país, ter empresas competitivas e deixar de objetivar fabricar 100% de tudo, foco e compartilhamento, é o nome do novo jogo. Assim, atingiremos a tal vantagem competitiva e diminuiremos nossa desigualdade. Não nos convém que o governo exija altas taxas de índice de conteúdo local, se não somos bons o suficiente em determinados produtos ou serviços, com essa estratégia geramos produtos caros e muitas vezes defasados em relação ao resto do mundo. As políticas de governo devem nos orientar para determinados segmentos para os quais possuímos vocação. E mais, podemos agir em bloco, bloco de países como o Mercosul que podem e devem oferecer o melhor de si para um produto & serviço final competitivo.
Com o fortalecimento das pequenas e médias empresas nacionais, os recursos e financiamentos deixam ou deveriam deixar de migrar na sua totalidade para os grandes conglomerados, tornando mais equânime a distribuição de renda e evitando os grandes “lobbies”. Vale dizer que atrás dessas ações existe o ser humano e seu nível profissional educacional influencia em todas as outras variáveis.
O Dr Zero Cost tem batido nessa tecla do “COMPARTILHAMENTO” a ser exercida entre as PME´s com o objetivo de diminuir custos e tornar o Brasil um país competitivo, eliminando de vez a participação medíocre que temos há décadas no comércio mundial e diminuindo o fosso entre as classes sociais.
Ailton Vendramini