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Da porteira para fora (178) – Jornal Tribuna Liberal de 25/10/2020 – Leilões de Mulheres.

Sim, o primeiro leilão histórico que se tem notícias ocorreu na Babilônia no ano 500 Antes de Cristo, ali homens de posses disputavam em leilões mulheres para desposar. A arte do leilão se inicia e para participar de um leilão constatava-se que era preciso ter recursos e mais do que isso uma boa engenharia financeira.

Os leilões são parte integrante de nossa vida cotidiana e extremamente importantes. Por quê? Porque foi o caminho encontrado pelas sociedades através de seus estudiosos para colocar preços nos bens e serviços complexos. Há uma área na micro economia que estuda somente leilões, ou seja, os preços estão atrelados ao tema equilíbrio.

Como colocamos preços nos produtos e serviços mais simples? Podemos citar:

Exemplo 1; levanta-se o custo para produzir um determinado produto ou serviço, coloca-se uma margem (o lucro), coloca-se os impostos e basicamente teremos o preço de venda. Aqui temos um primeiro problema após calcularmos o preço de venda, o comprador está disposto a pagar esse preço para esse produto ou serviço? E, se não estiver disposto como iremos ajustar esse preço?

Passo 1; um primeiro passo para o ajuste é ir diminuindo o preço de venda até que algum comprador decida comprar.  Obviamente existem críticas a essa modalidade.

Exemplo 2; Em vez do vendedor estipular o preço e aguardar o comprador, podemos estipular o preço e baixar a guarda. Ou seja, estipulamos o preço, mas deixamos claro que aceitamos a contra oferta, nesse caso o negócio é mais dinâmico até chegarmos ao equilíbrio, ou na venda propriamente dita que é quando vendedor se dispõe repassar o bem e o comprador a adquiri-lo. Esse caso difere do anterior na rapidez e nas pré-condições do negócio.  Obviamente existem críticas a essa modalidade.

E o Leilão?

O leilão é utilizado para produtos e serviços complexos, encontrar o equilíbrio do preço na modalidade leilão exige sofisticação.

Leilão de Linhas de Transmissão

Participei em diversos leilões na minha trajetória, normalmente os vendedores e os compradores estão ali interagindo, muitas vezes no mesmo recinto físico até chegarem ao equilíbrio.

Nessa época eu acompanhava leilões estilo holandês (também conhecido como leilão alemão ou leilão de preço descendente), foi utilizado pela primeira vez na Holanda para a comercialização de flores. Nessa modalidade vence o menor preço. Isso ocorre até hoje, nesse caso a empresa ou o consórcio de empresas oferece um preço para uma tarifa para explorar um determinado serviço. Exemplo, qual o menor preço que um determinado consórcio de empresas cobrará para explorar pedágios na Rodovia dos Bandeirantes, sendo que nesse contrato o consórcio se comprometerá com a manutenção, serviços de socorristas etc.

Só para termos uma ideia do trabalho enorme que há por trás desse tipo de leilão, os técnicos do lado vendedor precisam avaliar o bem e calcular quanto seria uma tarifa mínima que incentive o investidor a fazer um lance. O cálculo da tarifa não deve propiciar um retorno financeiro muito elevado (não podemos dilapidar o bem público) em contra partida o vencedor deverá prestar um bom serviço e correr inúmeros riscos. Os técnicos que representam os investidores também não possuem vida fácil e posso comprovar que passam muitas noites sem dormir construindo cenários dos mais diversos para que os investidores possam decidir seus limites.

Pensemos no leilão de uma linha de transmissão, imagine os riscos ambientais para atravessar um linhão por entre florestas, terrenos inacessíveis e tribos indígenas, além da manutenção durante o período de concessão, normalmente de 30 anos.

Há também o modelo inglês de leilão, aqui vence quem der o maior preço para adquirir um determinado bem, neste caso os preços são ascendentes, muito utilizado para a venda de bens.  O leiloeiro anuncia o valor mínimo da venda e começa recebendo os lances por parte dos compradores interessados. O leilão termina quando não houver mais interesse por parte dos compradores em aumentar a oferta.

É simples concluir que os leilões colocam preços em produtos e serviços que exigem um nível de engenharia sofisticado, existem dezenas ou centenas de produtos e serviços complexos nessa categoria que só podem ser precificados através de leilões. Há muitos desenhos de leilões e é até hoje a única maneira de resolver o tema: como encontrar o preço justo.

Leilão de Banda Larga

Por que é tão difícil precificar determinados produtos? Vamos a alguns exemplos; imagine que o governo brasileiro deseja vender/oferecer uma concessão para uma jazida de petróleo? Imagine que o governo decida vender/oferecer uma concessão para uma determinada rodovia ou ferrovia? Imagine que o governo decida vender/oferecer uma concessão para frequências de rádio? Imagine que o governo decida vender/ oferecer uma concessão para linhas de transmissão ou usinas hidroelétrica? Imagine que o governo decida vender/oferecer uma concessão para bandas de internet? É Simples ou Complexo?

Quem se dedicou incialmente a esse equilíbrio entre oferta e demanda foi o sr. Léon Walras, considerado por Joseph Schumpeter “o maior de todos os economistas”. Em 1874 ele lançou o livro “Elementos da Economia Política Pura”, ele defendia a livre inciativa e justificava matematicamente, ele explicava a origem da demanda e da oferta, ou seja, dos leilões. O nó é pensar no preço, antes que ocorra a venda ou que ocorra a compra, como construir esse tal de “preço”? Portanto, por trás do preço ele teorizou algo que todos denominamos “equilíbrio”. Para aqueles que gostam de saber o porquê as coisas são como são há todo um arcabouço teórico, “A Revolução marginalista e leilões walrasianos” que continua evoluindo até nossos dias.

Em 14/10/2020 ganharam o Prêmio Nobel da economia os senhores americanos Paul R. Milgrom e Robert B. Wilson, e adivinhem qual foi o tema: “Melhoria da teoria dos leilões”.

Por fim, rendemos nossos parabéns à empresa Leilões Sumaré representando todos aqueles que se dedicam de alguma maneira a essa nobre arte e permitem que de alguma forma todos nós tenhamos acesso aos bens citados acima através dos leilões.

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