O que seria do mundo sem a utopia? A utopia nos move, ela nos dá a força para acreditarmos que podemos chegar lá. É o inatingível mostrando uma pequena trilha onde essa passagem estreita nos indica a possibilidade de encontrarmos o pote de ouro no final do arco-íris. E, lá vamos nós, acreditando que as salas das riquezas da vida terrestres abrirão suas portas para nós. Viva o bem-estar da comunidade!
Pensemos num time de futebol qualquer, suponhamos que ele sonha ser o campeão estadual. Na virada de 2022 para 2023 o presidente do clube faz um discurso e diz: “2023 venceremos. E, viva o Urucubaca Futebol Clube”.
Pensemos numa pequena padaria que se instala numa cidade de 150.000 habitantes, segundo o novo censo do IBGE que será lançado em fevereiro de 2023. O seu proprietário o sr. Adramelech sonha em vender um pãozinho francês todas as manhãs para cada um dos habitantes de Amargurópolis. Esse simples e objetivo pensamento o move todos os dias incansavelmente, 16 horas diárias.
Pensemos no discurso do respeitável sr. Geraldo Alckmin assumindo o Ministério da Indústria, Comércio e Serviços “A indústria é essencial. São essenciais os empregos que gera, os tributos que recolhe, a riqueza que distribui. Para cada real produzido pelo setor industrial, a economia ganha algo em torno de 2,43 reais. O impacto positivo é percebido por todos os setores da economia. O momento nos impõe trabalharmos, incansavelmente, pelo emprego, pela distribuição de renda em apoio à indústria, ao comércio e ao setor de serviço. É urgente a reversão da desindustrialização precoce ocorrida no Brasil, que reclama uma clara política de competitividade industrial contemporânea.
Apesar de representar apenas 11% do PIB brasileiro, a indústria de transformação aporta 69% de todo investimento de pesquisa e desenvolvimento. A indústria responde por 29,5% da arrecadação tributária, ou seja, quase três vezes o seu peso na economia. O Brasil não pode prescindir da indústria se tiver ambições de alavancar o crescimento econômico e se desenvolver socialmente. Ou o país retoma a agenda do desenvolvimento industrial ou não recuperará o caminho do desenvolvimento sustentável, gerador de empregos e distribuidor de renda.”
Sejamos utópicos, viva a utopia, concordemos com o presidente do Urucubaca, acreditemos nas vendas futuras do proprietário da padaria de Amargurópolis, batamos palmas calorosas para o discurso de o Sr. Alckimin.
Todavia:
- O governo da sra. Dilma Roussef através da Nova Matriz Econômica (2011) foi além de discursos, instituiu um programa através de desonerações da folha de pagamento, redução das taxas de juros, desvalorização do real em relação ao dólar, desonerações tributárias à indústria, expansão do crédito do BNDES e as famosas reduções das tarifas da energia elétrica na base da canetada. Cenário final dessa maratona: a sra. Dilma reclamando do empresariado e o empresariado reclamando da sra. Dilma. E a indústria brasileira? Essa está retratada no recente discurso de posse de o sr. Alckimin.
- A CNI – Confederação Nacional da Indústria através de seu presidente entregou ao sr. Alckmin na semana da posse o que o CNI entende deveria ser feito pela indústria nos 100 primeiros dias de governo para a retomada do setor.
- O Dia de Reis comemorado todo dia 06 de janeiro segundo a tradição cristã já passou, os magos já outorgaram a faixa de presente ao sr. Lula, as arvores natalinas foram desmontadas, agora, cadê o plano?
Quando fixamos objetivos esse é o primeiro passo para uma caminhada repleta de metas que se suplantadas poderão nos levar a cruzar a linha final em primeiro lugar.
Sim, se o time do Urucubaca for campeão estadual os demais não serão, se o sr. Adramelech vender 150.000 pãezinhos todos os dias, muitas padarias fecharão suas portas. Sim, se o Brasil dobrar a participação de sua indústria no mercado internacional, de 1,3% para 2,5%, muitos países deixarão de vender seus produtos.
Definido o objetivo para nossas organizações e em sendo factível, façamos a ginástica: Como será o dia quando o objetivo for atingido?
Mesmo diante de um plano para o setor industrial é necessário que o plano seja flexível a fim de agregarmos às nossas metas alguma chance de serem alcançadas.
Supondo que ao impulsionar a indústria brasileira em direção ao crescimento, à geração de mais empregos, à retirada do Brasil da armadilha da renda média, à elevação do padrão de vida dos brasileiros, à retirada de milhões da bacia da miséria, enfim, definimos o “Por quê, faremos?”. Próximo passo, é hora de o governo definir o “Como faremos?”. Será que: Aumentarão os gastos? Aumentarão os impostos? Distribuirão benesses sem lastro? Ou, será apresentado uma agenda inteligente e factível?
E, nós aqui na base da pirâmide? Qual a missão nos cabe? Nós colocaremos tudo isso em marcha, alinhando o Por quê? e o Como? definidos pelo governo, nos responsabilizamos pelo “O que faremos?” (é cova medida).
O perigo que se coloca é batermos metas sendo opressivos, totalitários, assustadores e insustentáveis. Afinal do outro lado da utopia reside a distopia.