Suponha a seguinte situação, você tem um filho homem de 5 anos, sua mulher saiu para compras e a criança está ali ao seu lado. É uma residência térrea, você inicia uma “live – home working” e a criança se descola de você e vai para a rua.
Ali, encontra o filho do vizinho de 16 anos, por alguma razão eles iniciam uma briga. Dez minutos mais tarde você é retirado de sua “live” por uma vizinha aos berros. Ao sair, você encontra seu filho desacordado, ensanguentado, pega-o nos braços e corre para o hospital mais próximo com o garoto inconsciente.
Antes que terminemos essa história, o que você pensaria? Talvez, começasse a odiar o filho do vizinho. Talvez, se culpasse pelo ocorrido – você vacilou – vai ter que pedir desculpas. Talvez, pensasse por que o filho do vizinho não brigou com alguém do tamanho dele? Talvez, pensasse, isso não é justo, um menino de 5 anos numa briga com um adolescente de 16 anos!
Seu filho ali entrando na sala de cirurgia e lhe ocorre, você se promete que se seu filho sair sem nenhuma sequela desse episódio irá colocá-lo numa escola de Jiu-Jitsu e aos 18 anos irá brigar novamente com esse aborrecente. De repente, você se lembra que precisa avisar o pessoal de casa, principalmente sua mulher!
Em 03/09/2020 ocorreu algo similar, o governo brasileiro enviou a Reforma Administrativa para o Senado Federal aprovar. Ali consta um longo texto sobre o funcionalismo público, direitos adquiridos etc. todavia, algo que saltou-me às vistas foi o texto do “& 6º É vedado (proibido, não permitido) ao Estado instituir medidas que gerem reservas de mercado que beneficiem agentes econômicos privados, empresas públicas ou sociedades de economia mista ou que impeçam a adoção de novos modelos favoráveis à livre concorrência, exceto nas hipóteses expressamente previstas nesta Constituição.”
Ou seja, o governo brasileiro, sem nenhum programa para desenvolver a indústria local, lança essa criança para brigar num livre comércio contra americanos, chineses, coreanos, alemães, ingleses etc.
Será que aqueles que pregam o liberalismo (sr. Paulo Guedes) não conseguem enxergar que uma coisa é o Americano do Norte falando para nós que o que vale é a livre concorrência e vamos competir, outra coisa é nós chamarmos os gringos para competir de peito aberto? Não estamos aqui fazendo a defesa cega do protecionismo nacional, já fizemos isso no passado e não deu certo. O fechamento do país causou-nos um enorme atraso, mas a abertura irrestrita só é boa para o 1º mundo, precisamos de contra partidas inteligentes, caso contrário o canibalismo está decretado oficialmente.
Atualmente vemos diariamente na TV o sr. Donald Trump preocupadíssimo com a China, ele sabe que os chineses estão à frente quanto a tecnologia 5G e isso poderá gerar um monopólio mundial, e irá ocorrer com os EUA o que ocorreu com o Reino Unido na virada do século XIX para o século XX, os ingleses nunca mais voltaram a sequer ameaçar a liderança americana, os americanos se tornaram o dono do mundo e estão aí dominando há um século. Agora, os chineses começaram a falar grosso desde a década de 80 para cá, os EUA estão se sentindo ameaçado e defendendo o protecionismo. É mole?
E o Brasil? Estamos aqui, passivos, vendo nossa indústria ser desmantelada, seja lá quaisquer estatísticas que nos debrucemos para analisar. As indústrias locais que se destacam são vendidas e nem percebemos. Somos bons no agronegócio, certo? Veja título de matéria no site da John Deere “MOLINE, Illinois (1º de setembro de 2020): a Deere & Company concluiu a aquisição da Unimil (Piracicaba – matriz), uma empresa brasileira líder no negócio de peças de serviço pós-venda para colhedoras de cana-de-açúcar.”
Será que nossos dirigentes financistas não perceberam que somos a criança de 5 anos e não podemos brigar com um adolescente de 16 anos?!?!? Qual é a nossa estratégia? Entrar em coma e depois avisar o povo?