Há muito pouco a se comemorar com relação a 2020. Perdemos amigos, pessoas próximas, soubemos de histórias tristes de famosos e outros anônimos, todos igualmente importantíssimos para seus entes queridos.
Um ano de recordes lamentosos para as nações e principalmente para o Brasil que não soube lidar com a doença COVID-19, a desinformação e as informações contraditórias fizeram-nos experimentar o gosto amargo das perdas de vidas aos borbotões. Que Deus as acolha em sua infinita bondade.
Se esse fosse um filme Hollywoodiano vejo a cena de astronautas brasileiros “on board” discutindo quem teria usado indevidamente suas pastas para os dentes, alguns espaçonautas gritando ao lado da razão, enquanto a nave se dirige a velocidade de 25.000 Km/h “no stop” em direção ao Sol. Quanta bobagem e lixo fomos obrigados a escutar, ver e ler desde março de 2020!
Nossos dirigentes perderam mais um ano precioso com perfumarias e assuntos não prioritários, o Brasil é forte, mas mesmo os fortes um dia vergam a tantos desaforos.
Vale lembrar que o Brasil teve um ano pífio em 2019, ano cujos números foram esquecidos uma vez que se abateu sobre nós catástrofe, sem passado histórico, em 2020. Mas, lembremos, já vínhamos de crescimento tímido e diante de equívocos.
A política econômica adotada desde a década de 80, a concentração de fichas na Reforma Trabalhista, a concentração de fichas na Reforma da Previdência, e a futura concentração de fichas na Reforma Tributária, e a futura concentração de fichas na Reforma Administrativa mostraram e mostrarão que não é esse o nosso problema.
Sim, reformas são necessárias e sempre serão, o país irá necessitar de outras tantas reformas trabalhistas, de outras previdenciárias etc. não há como fugir desses temas nessa década.
A música regida pelos nossos maestros se restringiu a diminuir direitos trabalhistas, cortar custos da previdência, criar o teto de gastos e apontar para o aumento de impostos, assinalando o livre mercado e “quiçá” um Estado Mínimo. Tudo muito bonito, mas insuficiente.
Essa fórmula se não foi implementada na sua totalidade desde a década de 80, foi diuturnamente tentada através dos diversos governos que antecederam aos Bolsomínios. E, não deu certo, simples assim!
E por que não deu certo e por que não dará certo? O mundo mudou, o consumidor é mais exigente, ele clama por produtos e serviços sofisticados. Não se trata de algo novo, muitos países já percorreram esse caminho, basta olhar para a trajetória bem sucedida do Vietnam, da Coreia do Sul, da China, do Japão etc. Essas nações souberam direcionar suas políticas para atender esse novo consumidor e colheram e colhem bons resultados.
Esse direcionamento inteligente foi executado com a mão do Estado e não com um Estado Mínimo, essas nações não chegaram onde chegaram plantando soja, algodão, café, ou extraindo petróleo e minério de ferro. A Venezuela possui reservas petrolíferas invejáveis e não nos consta que os venezuelanos estejam gozando de alto padrão social, ou a Alemanha é a maior exportadora de café sem plantar um único pé da planta. Então, o que fizeram as nações inteligentes?
Serviços e produtos sofisticados é o que conduziram esses países para o patamar onde estão, políticas nessa direção é que possibilitaram o atingimento de rendas acima de U$ 30.000 dólares per capita. Portanto, não foi o mercado se ajustando às crescentes demandas que resolveram o dilema de país de renda média. Basta pensar, quantas sacas de soja trocaremos no futuro pelo modelo iPhone 15xpto? Aqui está a ponta da equação que o Estado brasileiro não amarrou ou sequer se deu ao trabalho de estudar.
Há esperança? O que diria Ivan Lins?
“De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos.”
Descobrimos que “humanidade” pouco significa nos nossos dias, é uma palavra etérea, enquanto “nação”, essa sim cala fundo nos corações que habitam certos pedaços de terra. Precisamos de um projeto de “nação” com visão de longo prazo. Hoje, como nação não podemos nos aventurar para qualquer campo mercadológico, a maioria dos espaços já foram ocupados, mas ainda podemos encontrar nichos, ainda podemos nos inserir nas cadeias produtivas mundiais, ainda podemos desenvolver em solo brasileiro o estado da arte para algumas tecnologias, a nosso favor temos; um mercado potencial gigante de 214 milhões de pessoas, as Forças Armadas encaradas pelo governo como um consumidor corpulento e a Floresta Amazônica que poderia abrigar universidades e pesquisadores dedicados a mata. Contra nós temos; a baixa escolaridade média da população; 12 milhões pessoas abaixo da linha da miséria e a falta de uma política “desenvolvimentista inteligente”.
Criemos o espírito de nação como lá atrás nos ensinou Fernando Pessoa; “Só existem nações; não existe humanidade.”
E, é perfeitamente possível sermos nacionalistas e estarmos inseridos no contexto mundial, aliás até agora, infelizmente, não resolvemos essa equação, transitamos entre o entreguismo e o nacionalismo relinchante. A gestão macro econômica sem o equacionamento da indústria, seja ela pequena, média ou grande, sem um Norte para produtos e serviços sofisticados demandados pela sociedade moderna é um erro recorrente que comentemos desde a década de 80.
Ano Novo, que venha um Novo Tempo. E, qual seria esse Novo Tempo? Seria a indústria sendo transformada em campus universitário, ou seja, a produção caminhando com o estado da arte. Como fazer isso acontecer? Com a participação de um Estado inteligente.
Agradeço esse espaço preenchido durante todo 2020 e desejo um Feliz Ano Novo ao pessoal do Rui Bloem! Um Feliz Ano Novo ao time da Veccon! Um Feliz Ano Novo aos nossos Leitores e Leitoras! Um Feliz Ano Novo aos nossos Inimigos! Um Feliz Ano Novo aos nossos Amigos! E, que sejamos Todos Muito Felizes!
Feliz 2021!