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Da porteira para fora (251) – Jornal Tribuna Liberal de 20/03/2022– Chefe Mandão!

O Chefe Mandão obtém os melhores resultados se comparado a um líder transformacional? Essa não é uma resposta simples.

Vamos pensar no mundo antes da Revolução Industrial, naquela época tínhamos algumas castas na sociedade e uma delas os artesãos. Os artesãos tinham abaixo de sua batuta os aprendizes, às vezes somente um aprendiz. Como será que se dava o relacionamento do artesão com o aprendiz? Será que os artesãos eram carrascos que faziam o aprendiz ajoelhar no milho?

Algo que não podemos desconsiderar é o seguinte fato: o aprendiz estava ali para aprender, eles queriam aprender, ou  seja, eles tinham um propósito muito claro. Eram, além de tudo persistentes. Hoje, sabemos, através de pesquisas científicas que a persistência vence os melhores talentos.

Se alguns dos artesãos eram Chefes Mandões não importava para quem estava ali para aprender e se tornar melhor a cada dia, esse obstáculo era superado em detrimento do mau humor do artesão.

Aí veio a Revolução Industrial, ou seja, o trabalho foi subdividido. Nós descobrimos que se separássemos as funções aumentaríamos a produtividade e diminuiríamos os custos. Tudo nasceu com a máquina a vapor que substituiu os cavalos. Até hoje nos referimos a essa mudança social de costumes. As máquinas começaram a fazer o trabalho de cavalos e, medíamos o trabalho  relacionando a força de um cavalo à força de uma máquina.  Hoje, entramos numa loja especializada em ferramentas e dizemos:- Por favor, preciso de um motor de 2 cavalos. E, se formos mais precisos diremos: -Por favor, preciso de um motor de 2 cavalos – vapor, ou 2CV. Obviamente estamos nos referindo a algo inventado na 1ª Revolução Industrial (1760 – 1840) quando a Maria Fumaça substituiu através do direcionamento do vapor de água o trabalho realizado por cavalos, criamos ali uma equivalência.

Depois, vieram outras invenções como a indústria química, elétrica, do petróleo e aço. Os transportes e a comunicação. No entanto, não nos esqueçamos que o trabalho seguiu dividido em partes e a especialização cada vez mais detalhada. Ou seja, podíamos trabalhar por 40 anos numa montadora de automóvel e saíamos de lá sem saber como montar o nosso próprio  automóvel.

Diante do trabalho dividido, os Chefes Mandões se deram bem por séculos: – Faça isso e não pergunte por quê. Faça! Aqui temos a crítica do gênio Charlie Chaplin, ele aperta um parafuso e com o desenrolar do filme se confunde com a máquina,  Tempos Modernos;  https://www.youtube.com/watch?v=4PaGw4ZRmWY

Os Chefes Mandões puderam inclusive se espelhar na academia onde teorias sobre o trabalho endossavam o aumento da produtividade através do comando e controle.

Hoje, estamos no século XXI, o que mudou?  Os Chefes Mandões não se dão tão bem como antigamente? Depende! Sim, mas, depende do que? Depende da empresa, vejamos a indústria que está dividida em 04 categorias;

Indústrias de base: mineradoras, madeireiras, petrolíferas, metalúrgicas.

As Indústrias de bens intermediários: aquelas que produzem papel e celulose, produtos químicos, borracha, plásticos, componentes elétricos e eletrônicos.

Indústrias de bens de consumo duráveis: de automóveis, móveis, eletrodomésticos, eletrônicos. E,

Indústrias de bens consumo não duráveis: de alimentos, têxtil, farmacêutica, cosméticos.

Muito provavelmente se fizermos uma pesquisa sobre o grau de QI Digital dessas empresas encontraremos empresas que estão em fase com o estado da arte, outras medianas e outras que ficaram para trás, mas sobrevivem. A sobrevivência ocorre porque os clientes pertencem a gerações distintas. Exemplo, se quisermos comprar um coador de pano encontraremos quem o fabrique e um público que o utiliza, a extinção é lenta e inevitável.

Portanto, se o nosso Chefe Mandão está numa indústria que ficou para trás, muito  provavelmente ele aumentará a produtividade na base do “chicote”, e está “funcionando”.

Mas, então, porque todo esse lero-lero de liderança transformacional, democracia, empoderamento do colaborador, treinamentos etc.? Ocorre que num mercado estável, nós podíamos fazer um planejamento estratégico, definir as metas, subdividir o trabalho e cobrar resultados. E, o que nos impede de fazer isso atualmente? As mudanças rápidas.

As mudanças são muito rápidas, antes levavam anos, décadas e tudo era previsível. Hoje, num dia estamos lidando com os efeitos da doença COVID-19, noutro com as chances de uma III Guerra Mundial, noutro com o carro elétrico, noutro com a criptomoeda etc. Além disso, tanto o fornecedor como o cliente são voláteis, eles aparecem e desaparecem.

O mundo é V.U.C.A. (Volatility, Uncertainty, Complexity, and Ambiguity), mas isso já foi repetido à exaustão. No entanto, o que estamos fazendo para encarar essas novas condições mutantes? Essa resposta não foi repetida.

O colaborador que está ali na interface com o cliente ou o potencial cliente deve agir rápido e ser assertivo. Os tempos para pensar estão cada vez mais curtos, assim, o empoderamento das pessoas certas é fundamental. É preciso implantar a mentalidade de crescimento, os colaboradores projetam seus próprios resultados em linha com os objetivos compartilhados da empresa, para tal, os colaboradores precisam de autonomia para conduzir a própria vida profissional, domínio de suas funções para fazer cada dia melhor sobre o que realmente importa e,  propósito para contribuir com algo maior do que as funções desempenhadas.

Ahh, mas o colaborador não colabora! Ele não entendeu o que está acontecendo! Darwin, explica:- Os mais despreparados terminarão no estômago dos mais rápidos. Ponto.

 

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