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Da porteira para fora (284) – Jornal Tribuna Liberal de 06/11/2022 – resolva x=1/2 √(-9)

Se você possuir uma boa memória irá se lembrar do “ginásio” quando a Dona Elza resolvia a equação acima ocupando menos de uma linha. Ela “mostrava” que, -1 = i2, substituía o sinal de menos por i2 e escrevia na lousa preta: =  ½ * (√9 *i2) sacava a raiz de 9 e sacava a raiz de i2 e voilà,  = (+/-) 3i/2, lembremos que a raiz quadrada de números negativos é somente proibida para o conjunto dos números reais, mas não para os números complexos. Todo número complexo é um número real, mas nem todo número real é um número complexo, dizia ela.

Tínhamos as aulas para resolver equações de 1º grau, 2º grau, até grau “n”, mas nunca passaram do grau 5º, pelo menos lá no Rui Bloem onde eu estudava. Suponhamos que a equação fosse de grau 4º, então, funcionava assim, chutava-se uma solução para x, e se desse certo, ou seja, se a equação se igualasse a zero, voilà, baixava-se um grau da equação para o 3º, chutava-se novamente uma outra possível solução e se desse certo, voilà, chegávamos à equação de 2º grau, onde todos nadávamos de braçada. Era o método de Briot – Ruffini, …você vai chutando.

Passaram-se décadas, no meu caso, e ninguém me perguntou ou me pediu até hoje para resolver um polinômio. Recentemente minha sobrinha, a Mel, me disse:- Tio, você não tem noção de quanto é difícil estar cursando o ensino médio. Não concordei, eu conheço bem o sofrimento.

Em contrapartida, embora o mundo real (pelo menos por aqui) tenha nos afastado dessas equações todos nós concordamos que o mundo se tornou mais complexo. Pensemos num agricultor, ele depende do clima, do preço das mercadorias no mercado nacional e muitas vezes internacional, depende dos custos trabalhistas, do custo da água, do custo da energia elétrica, dos transportes, do poder aquisitivo dos consumidores e …la nave vá. Se pensarmos que as incógnitas para esse agricultor são dadas, sim, ele sabe o quanto deve chover em sua propriedade para ter uma boa colheita, ele sabe o preço das mercadorias no mercado interno e externo, ele conhece os custos trabalhistas, ele sabe o valor do metro cúbico m3da água, ele sabe o valor do Kw/h, ele sabe o custo para levar seus produtos até o CEASA, ele sabe o quanto seus clientes podem pagar por seus produtos e …la nave vá.

Mas, e daí? Qual a relação com a Dona Elza? Pois é, naquele meu tempo a Dona Elza fornecia os coeficientes (para a equação da parábola temos: a x2 + b x+ c = 0, as letras a, b, são chamadas de coeficientes da equação, onde a = coeficiente angular, b = coeficiente linear, e o c = é mais conhecido como termo independente) e a Dona Elza pedia para nós calcularmos o ‘x’. Ou seja, se a equação fosse igualada a zero descobríamos o valor de ‘x’ e sabíamos por onde passava o mínimo da nossa curva (hoje podemos denominar de custo mínimo). Algumas vezes podíamos encontrar vários valores para ‘x’ que satisfaziam a equação (dependia do grau da equação), ou seja, a curva cruzava o eixo do ‘x’ em mais de um ponto.

Como vimos, no mundo real do agricultor os valores de ‘x’ são fornecidos, mas nós, os gestores, me parece nos distanciamos da Dona Elza. Por quê? Se conhecemos os x´s não precisamos nos debruçar sobre os polinômios? Errado, nunca foram tão importantes. Qual é o problema? O problema é que nós sabemos cada vez menos sobre o quanto os coeficientes impactam(pesam) nos nossos negócios, não conseguimos avaliar os coeficientes, a, b, c, d, e, f, g, h, i, …. com precisão e eles só aumentam, essa curva é exponencial, piora dia a dia. O gestor precisa ter as soluções para polinômios superiores ao grau 5º, e sem essas soluções as possibilidades de erros crescem exponencialmente (f(x) = ex). Conclusão: veremos empresas implodirem.

Quando a Block Buster quebrou, não foi porque eles desconheciam a tecnologia, e a Netflix assumiu a dianteira. Quando a Kodak quebrou não foi porque eles desconheciam a tecnologia utilizada para revelação da foto digital, aliás foram os primeiros a empregá-la. Quando as livrarias quebraram não foi porque elas não conheciam a internet e a Amazon foi lá e se aproveitou do momento. E, não foi também porque essas empresas não possuíam recursos financeiros. Então, o que foi? Acontece que os coeficientes que antecedem os  x’s cresceram e a Block Buster, a Kodak e a Fnac não sabiam resolver o polinômio na prática. Aliás não souberam sequer montar seu próprio polinômio. Ou seja, não se trata de desconhecimento, se trata de incompetência para se adequar ao novo. O fato de empresas como a Block Buster terem sido destruídas, se perguntado à época para uma machine learning: Qual a chance de falência?        :- provavelmente ela emitiria uma probabilidade alta de tal falência ocorrer. (curiosidades: Na semana iniciada em 16/10/2022 a Nubank lançou sua própria moeda digital, a Nucoin. No domingo 30/10/2022 o piloto da McLaren testou capacete com display digital, objetivo: transformar o carro num verdadeiro outdoor que muda o anúncio volta a volta. Eletrodomésticos já conversam entre si no 1º mundo).

Infelizmente a maioria dos gestores estão decidindo com base na experiência passada, mas os coeficientes estão se multiplicando e cambiando, os gestores desconhecem o peso desses coeficientes para o seu próprio negócio e estão adentrando ao terreno da incerteza. Ou, melhor, muitos já estão atolados na incerteza. E, atirando no escuro para acertar o cliente.

Não importa o quão complexo seja o polinômio da sua empresa, as ferramentas estão aí para resolvê-lo e são gratuitas.

Não defendemos aqui que o gestor ou o homem de mercado deva saber resolver um polinômio de grau “n”. Não é isso. O gestor deve saber onde ele deseja chegar e para tal ele precisa saber que sua empresa possui um polinômio próprio (um modelo matemático) que precisa ser resolvido, e que ele deve saber acionar as alavancas internas corretas para escrever e resolver esse polinômio. Em outras palavras, a empresa se arrisca num determinado mercado, colhe dados, de posse desses dados o time interno vai adequando o coeficientes:  a, b, c, d, e, f, …..n para o polinômio até que conseguem encontrar o erro próximo de zero (denominado: Loss Function (L)  ) para que a  empresa possa maximizar os  lucros. Observamos que as empresas utilizam esse mesmo método para otimizarem alguns de seus importantes processos internos.

Vejamos um exemplo; suponhamos um processo em que uma máquina irá analisar chapas do pulmão. O que ela fará? Os médicos, atualmente, ao lerem uma chapa do pulmão sabem o tipo de doença que o indivíduo apresenta. Então, a saída, os x’s ou os diagnósticos são amplamente conhecidos, o que precisamos fazer é criar um polinômio de sorte que quando a máquina se deparar com manchas idênticas àquelas que os médicos identificaram como uma doença xpto, ela imprima um relatório coincidente com o diagnóstico médico. Agora, terminado o aprendizado dessa máquina, imagine quantas dezenas de chapas do pulmão essa máquina poderá analisar e emitir o diagnóstico por minuto. Como esse médico irá competir com essa máquina? Será que brevemente poderemos escrever um artigo: A Block Buster e os médicos, o mesmo final?

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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