Ginástica para esse domingo especialíssimo:
- Premissas:
- Você vive num país virtual que não é para principiantes. E, está localizado abaixo da Linha do Equador.
- Você acredita na sorte, sempre faz um fezinha, joga o mesmo jogo por anos a fio e, já se vão duas décadas que não abocanha “El Gordo”.
- Os consultores e jornalistas especializados em economia os quais você acompanha são renomados, todavia, nenhum deles apostou na eleição de o sr. Donald Trump e, muito menos lhe avisaram sobre a quebra do Lehman Brothers Hondings Inc. em 2008 quando a economia mundial parou.
- Você possui algumas economias, se deixa influenciar pelos canais de rádio e televisão mais penetrantes deste país virtual, aplica-as em Letras do Tesouro Nacional.
- Esse país virtual terá eleições virtuais em diversos níveis neste domingo.
- Você é candidato, seu objetivo: ser conduzido ao cargo máximo deste país virtual, ou comandante mor da galera.
- Segunda-feira 08/10/2018.
- Você venceu as eleições. O povo fez muita festa, não por você ter ganhado, mas você renovou as esperanças deles por dias melhores. No entanto, você sabe que governar é a arte das possibilidades, não irá cumprir tudo o que prometeu, mas será honesto.
- Passada a euforia você reúne os novos camaradas que irão conduzir o povo a um porto seguro.
- Rapidamente você toma ciência daquilo que todo mundo já sabia, o cobertor é curto, as contas não fecham, e duas Vias se apresentam à sua frente.
- Via A;
- Vamos continuar gastando, afinal, os Estados Unidos da América do Norte e não do Sul devem muito mais que nós e, estão lá numa posição confortável. Meta: Vamos atingir em dívidas, 80% do PIB.
- Um de seus camaradas o faz cair na real: -“Concordo, senhor, todavia não somos os EUAs, imagine a seguinte situação: a Coreia do Norte declara guerra contra os EUA e, o pior cenário que pode acontecer aos coreanos: A Coreia do Norte vence a guerra! Uma população de 23,4 milhões de habitantes tecnologicamente atrasada anos luz terá que administrar uma população de 325,7 milhões de pessoas vivendo com uma moeda forte, num padrão social muito superior e, tecnologicamente léguas à frente. A primeira missão do chefe de governo coreano será enviar um homem de confiança (sim, somente um, pois não há capital humano sobrando), a missão desse coreano será: Comandar a NASA.”
- Outro camarada corrobora: -“Senhor, não podemos enviar o Raimundo para comandar a NASA. Ele não sabe nem em que estado dos EUAs está localizado a NASA!?!”
- Você como candidato eleito exige um café. Faz um gesto que expressa sua voz de comando, a prática da força do cargo, e diz: -“Vamos ao plano B, camaradas.”
- Via B;
- Aí um outro camarada toma a palavra. –“Senhor o plano B seria diminuir o Estado, cortar gastos e, se concentrar no SESI, ou melhor, nas atividades básicas: Saúde, Educação, Segurança e Infra. O restante podemos incentivar aqueles que produzem para que dominem o mercado.”
- Você acena para esse camarada com um gesto de aprovação. Faz até um comentário sobre Segurança, afinal, dentre essas áreas nada é mais importante que a Segurança. E, todos concordam.
- Aí você decide: -“Eu decido pela Via B” e, já emenda com a pergunta: -“Qual o próximo passo?” Um camarada levanta a bola: -“Senhor o próximo passo é diminuir a dívida interna. Nós não conseguimos pagar a nossa dívida, o país está no cheque especial desde há muito tempo. Não temos e não esperamos superávits primários durante o seu governo, estamos batendo 5,5 trilhões de reais de dívida, esse é um recorde que estamos sempre superando.”
- Aí você retoma a palavra e diz: – “O que faria um empresário que se encontra em situação financeira complicada?”
- Um camarada novato responde: -“Venderia mais e com maior margem para cobrir os rombos, senhor.” E você diz: -“Senhores, se a situação está caótica não há como aumentar vendas, temos que ir na raiz do problema, ou seja, diminuir a dívida.”
- Todos aplaudem.
- E você emenda: -“Vamos fazer o que todo bom administrador faz, vamos renegociar a nossa dívida interna.”
- Todos aplaudem, novamente.
- E você ordena: -“Vamos chamar os credores e explicar nossa situação, eles irão entender. Depois, com mais tranquilidade no caixa vamos beneficiar essas pessoas que souberam cooperar neste momento delicado.”
- Todos aplaudem, novamente.
- E você emenda: -“Quem são esses credores?”
- Um camarada responde: -“Senhor, é o POVO! São eles que nos emprestam recursos para serem pagos no longo prazo, a grande parte através de Letras do Tesouro Nacional. Não será possível chamar o povo para renegociar, é muita gente.”
- Paira no ar um silêncio de espanto. Todos refletindo.
- Você retoma a palavra: -“Vocês me elegeram, confiaram em mim, mas eu não posso fazer tudo sozinho! Preciso de uma solução!”
- Aí um camarada que aguardava a vez, diz: -“Senhor, publique um decreto: Devo Não Nego, pagarei quando puder.”
- Você concorda, mas exige cadeia nacional de TV e rádio para fazer esse pronunciamento e, já até cita a frase que será impactante: -“A maior tragédia do Brasil não é a dívida externa, nem a dívida interna: é a dívida social.” Você já ia prosseguir com o discurso decretando um forte deságio para os pagamentos das LTN´s quando um outro camarada pede a palavra.
- -“Senhor essa frase é de Teotônio Vilela, morto em 27 de novembro de 1983.” (Continua na próxima semana).
(Leia a mesma matéria no Tribuna Liberal)