A Cabra.
Pensemos na seguinte caçada. Uma onça sente falta de alimento e avista uma jovem cabra pastando na campina. Opções:
- A onça persegue a cabra, a cabra corre, a onça corre até alcançar a cabra, pula no cangote da vítima e morde seu pescoço fatalmente. Refeição garantida.
- A onça persegue a cabra, a cabra corre até um paredão de pedras de altura intransponível, então, a cabra para e, volta-se para a onça que caminha em sua direção. As duas estão frente a frente. Pergunta-se: A onça irá atacar? Lembremos que a onça sente falta de alimento.
Estamos interessados na situação 2, ela não permite a cabra qualquer movimento senão partir para cima da onça sabendo que o fim pode estar próximo. Assim, ela partirá com todas as suas forças e chifre em risque. Digamos que há uma boa chance de ela lograr furar um olho da onça, quem sabe os dois, provavelmente não a mate, mas com certeza deixará ali um legado que a onça não se esquecerá até o final de seus dias.
A cabra na situação 2 é um ser sem opção, é verdade que ela poderá ficar passiva e esperar ser comida, mas sabemos que com a adrenalina a mil esse fato não ocorrerá depois de uma corrida errante tentando se esquivar de seu predador. A reação irracional e a partida para a luta são inevitáveis.
Aristóteles.
O mestre filósofo grego ensinou que a melhor maneira de se viver é através das virtudes, ele documentou que a vida boa provém da prática das virtudes. Segundo o mesmo Aristóteles a virtude é ponto médio entre dois vícios. Quais? A falta e o excesso. Ou seja, ele nos recomendou a conduta do meio-termo. Em outras palavras, a virtude está entre os dois extremos: A falta e O excesso.
Hoje sabemos que para atingir o ponto médio é preciso disciplina, pulsação, ritmo e, padrões de comportamento, sem isso não é possível chegar lá.
A falta.
Em tempos atuais podemos citar alguns exemplos de falta, a falta de poder político do governo, a falta de companheirismo, a falta de educação, a falta de cultura, a falta de bons exemplos, a falta da presença da família, a falta de recursos financeiros, a falta de objetivos, a falta de responsabilidade, a falta de projeto de vida, a falta de bom senso, a falta de consideração para com as pessoas principalmente os mais velhos (é verdade que os mais velhos com o advento da tecnologia estão sendo marginalizados, mas temos que respeitar aos mãos calejadas e as rugas provenientes do trabalho duro).
O Excesso.
Em tempos atuais podemos citar alguns exemplos de excesso, excesso de poder econômico do governo, excesso de recursos em uma sentença jurídica, excesso de exercícios físicos, excesso do vulgar, excesso da banalidade, excesso de sedentarismo, excesso de ingestão de comida gordurosa, excesso de ingestão de álcool, excesso da pratica de sexo, excesso de exposição social, excesso de tempo desperdiçado em redes sociais, excesso de tempo desperdiçado com a TV.
Miremos nossos trabalhadores e a tragédia de Suzano.
Se mirarmos os trabalhadores das empresas a pergunta que podemos colocar é: Do que é que o trabalhador sente falta? Provavelmente muitos dirão que de um salário mais robusto, mas sejamos honestos salários são consequências por um trabalho de valor realizado ou a ser realizado com eficácia. O salário não é causa e sim consequência. O sujeito ganha pouco porque produz pouco, lembremos que é preciso 5 trabalhadores brasileiros para produzir o que 1 trabalhador americano do Norte produz em 8 horas de trabalho.
Agora, qual a falta que determinado item faz ao trabalhador? Suponhamos que ele sinta falta de água, ou seja, ele está com sede. O que fará? Irá buscar um copo de água para sanar sua sede. Se ele beber um ou dois copos de água irá satisfazer sua sede, mas se beber dez litros de água teremos uma ingestão em excesso e problemas de saúde.
Agora, suponha que ele sinta falta de conhecimentos? O que ele fará? Irá estudar, perguntar, interagir?
Agora, suponha que ele “não” sinta falta de novos conhecimentos, “não” sinta falta de atualizações, “não” sinta falta de aprender um novo idioma, “não” sinta falta de cooperar com seus pares, “não” sinta falta de uma educação continuada, “não” sinta falta de pertencer a um time campeão, “não” sinta falta de fazer o seu trabalho a cada novo dia de maneira mais eficaz, “não” sinta falta de melhorar o desempenho de seus clientes com o produto ou serviço que fabrica ou vende. A qual salário ele fará jus?
Agora, suponha um atirador protagonista na tragédia de Suzano, do que será que ele sentia falta? A falta de melhor opção? A falta de apoio familiar? A falta do bom exemplo? A falta de boas perspectivas? Lembremos que o suicídio é uma boa saída para quem o pratica, pois, do ponto de vista do suicida seus problemas irão terminar.
Conclusões
1. Se a cabra não tiver opção, ela irá partir….
2. Se o trabalhador não enxerga a possibilidade de obter o que lhe falta no local onde trabalha, ele irá partir…
3. Se o atirador de Suzano não enxergar saída para uma vida bela e justa, ele irá partir….
Assistimos estarrecidos a prática criminosa de atiradores em igrejas e escolas, locais representantes de baluartes sociais, locais responsáveis pela formação moral de nossos habitantes. Tais fatos confirmam que a sociedade brasileira está doente e, não há causa única. Não há como imputar somente a um elemento ou a alguns elementos todos os ônus dessas atividades suicidas.
O que cada um de nós e as autoridades devem-se perguntar é: Dentro das possibilidades disponíveis, como podemos agir para ter uma vida virtuosa, evitando faltas e excessos? (Continua na próxima semana).
(Leia a mesma matéria na mídia impressa)