Em seminário sobre o futuro dos negócios na era digital, promovido pela Fiesp e pelo Ciesp, especialistas falaram sobre as oportunidades da digitalização para as organizações brasileiras de pequeno porte, suas vantagens e seus desafios
O fato de as empresas brasileiras não estarem acompanhando o ritmo da digitalização no mundo faz com que o Brasil fique cada vez mais distante da globalização. O alerta é de Marcia Ogawa, sócia-líder nacional da Indústria de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da Deloitte Brasil. Prova disso, diz Marcia, é o relatório do Fórum Econômico Social sobre competitividade 2017/2018, onde o Brasil aparece em 80º lugar. “Uma posição vergonhosa, porque esse índice embute questões de inovação e tecnologia”, disse durante o IV Seminário da Micro e Pequena Indústria realizado, nesta terça-feira (24 de outubro), pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), na capital paulista.
“É preciso que governo e empresas enxerguem a tecnologia com novos olhos, que percebam que o mundo digital não é só para as grandes corporações, mas, ao contrário, uma grande oportunidade para as pequenas e médias empresas”, disse a diretora da Deloitte. “A inovação e a tecnologia, hoje, trazem simetria de informações e os países que não conseguirem assimilar as tecnologias, não conseguirem incorporar as inovações, ficarão cada vez mais para trás”, disse. “Nas últimas décadas, nossa produtividade teve crescimento aquém do esperado e basicamente atrás de tudo isso está a falta de inovação e tecnologia em nossas empresas”, afirmou.
Para a executiva, é preciso elevar a produtividade para atrair mais investimentos externos. Mas para isso, falou, é preciso integrar nossa cadeia global de suprimentos, uma vez que ainda são poucas as indústrias brasileiras que estão, de fato, integradas à cadeia global. Marcia Ogawa reforçou que é preciso desenvolver ainda mais o setor de tecnologia no Brasil, o parque tecnológico industrial, promover a inclusão digital. “Por isso o tema inovação nas pequenas e médias empresas é de extrema relevância e urgência”, completou.
Oportunidades
Sobre as oportunidades para a pequena e média indústria nesse mercado digitalizado, a diretora da Deloitte citou o setor automobilístico, que hoje tem um grau de digitalização elevado. “Temos, logicamente, componentes mecânicos em qualquer carro, mas não somente mecânicos, também digitais e é aí que surgem as oportunidades para as pequenas indústrias, que podem ser fornecedores com um capital intensivo menor”. As oportunidades seguem ainda no mercado da robótica, onde há players menores. Outro exemplo está no setor têxtil onde, segundo Marcia, existe grande espaço. “Hoje, os tecidos são diferentes, têm muita tecnologia embarcada, ou seja, não se está mudando o como produzir, mas o que produzir”, disse. É assim por vários outros setores onde as pequenas e médias indústrias têm espaço para atuar sob as novas tecnologias. “As barreiras de entrada no mercado de empresas digitalizadas são extremamente baixas”, lembrou a executiva.
“Muitas vezes o empresariado brasileiro acaba se perdendo olhando apenas o mercado interno quando na verdade no mundo de hoje temos de entender que o mercado é o do mundo. E ao considerar o mercado do mundo temos de considerar as tecnologias existentes no mundo”, afirmou Márcia Ogawa. O relatório anual da Deloitte sobre as principais tendências tecnológicas globais identificou, na edição de 2017, como principais quatro: a IoT (sigla em inglês para a Internet das Coisas), Machine Inteligent (robotização), Blockchain e Big Date. “São conceitos não exclusivos das grandes empresas, que podem ser incorporados pelas pequenas que, ao levá-los para dentro de casa poderão criar modelos de negócios ao redor dessas tecnologias, até mesmo uma nova empresa”, diz Marcia.
Um dos motivadores para que as pequenas e médias empresas adotem essas tecnologias está no preço. A diretora da Deloitte lembra que todas essas tecnologias ficaram muito baratas e muito acessíveis. Daí a oportunidade para empresas como provedoras de soluções, equipamentos, sistemas, para indústrias maiores, varejo, área financeira, de saúde, e de outros setores. Em outros países existem inúmeras pequenas empresas que são 100% digitais enquanto o Brasil ainda lida com questões como privacidade, de localização de dados, da falta de estrutura de comunicação, de provedores locais. “Será que temos de esperar tudo isso ser resolvido no Brasil para começar a pensar nessas empresas digitais?” pergunta a executiva.
Menos impostos
Na mesma linha de problemas, Milton Bogus, diretor titular do Departamento de Micro, Pequena e Média Indústria (Dempi), destacou na abertura do seminário que as pequenas e médias empresas precisam se preparar para as novas oportunidades que a economia moderna demanda, ressaltando que a transformação digital ignora toda e qualquer crise. E que se o Brasil não acompanhar essa evolução será ainda mais impactado pela concorrência. No entanto, ressaltou o impacto dos impostos sobre esse segmento, lembrando que eles devem ser compatíveis com a capacidade de pagamento das empresas. “De nada serve tantos Refis do governo se os impostos continuam elevados”, disse Bogus. “Neste momento de queda da inflação e da Selic não vemos essa redução chegar às micro e pequenas empresas”, criticou o diretor da Fiesp.
O deputado estadual Itamar Borges, vice-presidente da Frente Parlamentar do Empreendedorismo na Assembleia Legislativa de São Paulo também ressaltou a importância da digitalização, da tecnologia nos negócios que também já chegou ao poder público, ao qual pediu menos burocracia. “O poder público busca a digitalização para facilitar a vida da sociedade, mas muitas vezes levam para a digitalização aquilo que mais interfere na vida dos empresários, que é a burocracia”, disse o deputado, que pediu uma digitalização integradas à modernidade.
Apesar do enfoque sobre as pequenas e médias empresas, Marcia Ogawa ressaltou a necessidade de se avaliar e pensar no impacto da economia digital sobre o trabalhador brasileiro do futuro e como será formado esse novo trabalhador. Não seria o momento de preparar as crianças desde já para ser esse novo trabalhador digital para que consigam atender a esse novo mercado? Qual o impacto da economia digital para o Brasil e para as micro e pequenas indústrias? Existem ameaças e oportunidades, segundo Marcia, mas, diz, se não estivermos preparados é uma ameaça. Do contrário, vira uma oportunidade. E, por fim, qual impacto da economia digital na sociedade, lembrando que não se pode esquecer que todas essas tecnologias têm de ser utilizadas com muita ética, diz a executiva.
Chamou também atenção para a responsabilidade das empresas na educação desses novos trabalhadores. “Vejo ainda o Brasil atrasado em especial na educação mais básica em relação às competências que as crianças têm de ter, enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, as crianças já estão sendo incentivadas para o lado da ciência. Por isso as empresas são responsáveis por abraçar o movimento de inclusão nas novas tecnologias para que possamos ter empresas cada vez mais digitais.
Fonte: Agência Indusnet Fiesp
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