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A Improvisação e a PME – Jornal Tribuna Liberal – 16/04/2017

Quando me aventurei a estudar um instrumento musical, lembro-me da primeira aula quando eu disse:
– Gosto de Jazz e Blues, portanto, meu negócio é improvisar. E o mestre respondeu:
– Ok, se você tiver disponível cerca de 4 a 6 horas por dia de estudo, incluindo sábados, domingos e feriados, em alguns anos estará improvisando. E ficamos por aqui!
Na música a improvisação somente virá depois que a base técnica e a prática estiverem consolidadas. Assim, no Jazz quando o artista cria espontaneamente ele o faz em cima da progressão harmônica da canção. Existem diversos tipos de improvisação como; improvisação Modal, improvisação Atonal, improvisação livre, etc. Alguns instrumentistas gravam seus acompanhamentos (comping) e depois eles encimam com a improvisação.
A improvisação no campus universitário chega após longos anos de estudo, a livre-docência em algumas das universidades mais conceituadas do Brasil (USP, Unicamp, Unesp), ocorre quando o aluno após a graduação, após o término do mestrado e após o término do doutorado aventura-se num tema livre para uma nova tese.
Um dos maiores seriados televisivos sobre improvisação, foi na década de 80 e 90, o Magaiver ou MacGyver. Ele encarava o perigo através da improvisação e obviamente sempre se saía bem. O legal é que ele ao contrário de outros agentes não possuía armas, somente o cérebro. Imaginação, criatividade e improviso não faltavam ao Magaiver. No entanto, seu cérebro possuía conhecimentos científicos e as improvisações eram verossímeis.
O argentino Omar Galvan um estudioso da improvisação teatral desde 1994, já passou pelo Brasil dando palestras, entrevistas, workshops, etc. sobre o tema e disse: “Somos improvisadores, mas não somos improvisados”.
Em “Os princípios da Improvisação” o artista e escritor Claudio Amado escreve sobre a improvisação nos palcos: “Diferente do processo de criação tradicional, que vai desde uma ideia ou conceito inicial, passando pelo desenvolvimento de protótipos, testes e aperfeiçoamentos até se chegar ao produto final, na improvisação tudo acontece na mesma hora. Planejamento e ação ocorrem ao mesmo tempo, o processo e o produto acontecem juntos, ou melhor, processo e produto são a mesma coisa”. O impro ou Improv é o nome que damos ao teatro de improvisação, o Dr Zero Cost pergunta:  É preciso estudar para improvisar, ou subimos no palco e mandamos ver? Será que não existe uma técnica atrás do improviso? Será que se improvisarmos em grupo, é igual a improvisar sozinho diante de uma platéia? É preciso treinar para improvisar? Sim, e muito. E escreve Claudio Amado: “Quem pratica improvisação desenvolve habilidades que são essenciais para todo mundo, em qualquer área de atuação: comunica-se melhor, pois sabe ouvir com clareza e expressar-se com eficiência; colabora e interage melhor com os outros, trabalhando em equipe, podendo liderar e ser liderado de acordo com o momento; torna-se mais aberto e receptivo aos pensamentos e propostas dos outros; tem coragem de arriscar-se e aprender com os próprios erros; torna-se mais espontâneo e criativo, pois diminui a censura  e o julgamento às próprias ideias, deixando-se levar pela inspiração e pelo fluxo de pensamento coletivo, entre outras atitudes de comportamento”.
Na administração de uma PME muito pode ser estudado para posteriormente buscar-se a improvisação com alguma probabilidade de êxito. Infelizmente a grande maioria dos dirigentes nacionais não enxergam assim a trajetória de CEO, embora a tentativa e erro seja algo comprovadamente eficaz, muitos erros poderiam ser evitados se as tentativas de improviso fossem feitas em cima de uma base conceitual sólida e fruto de consenso com gente preparada. Improvisação sem base, eleva os custos! Foco do Dr Zero Cost!
Para a infelicidade de muitos empreendedores que improvisam constantemente no seu dia a dia, há um carrasco cruel denominado mercado, que pode levar para a guilhotina o empreendedor quando ele erra, e uma segunda chance pode lhe ser negada.
O ambiente hostil e salpicado de mudanças do mercado brasileiro nos traz alguma vantagem competitiva. Escrevemos que o brasileiro não é muito afeito a leituras e gosta de aprender por osmose, todavia, um executivo brasileiro com bagagem sabe muito bem o que é uma inflação galopante, uma concorrência global desleal, uma carga tributária estupida, conhece nos detalhes como funciona uma máquina governamental corrupta, e esses fatores de seu dia a dia valem muito mais que um MBA e o preparam para a sobrevivência em condições adversas. Imagine, então, se ele estudasse! Seria imbatível!
E por que nossos empreendedores não estudam? O Brasil perdeu em vários momentos da história o bonde do desenvolvimento e não é difícil atribuir esse fato a falta de uma política direcionada para a escolaridade. Se em 1870, 6% de nossas crianças de 5 a 14 anos estavam sentadas nos bancos escolares, em 1920 esse número havia saltado para míseros 15%, enquanto na virada do século XIX os americanos possuíam 90% de alunos que sabiam ler, escrever e executar operações matemáticas básicas. Nós conseguimos nos equiparar aos americanos agora na virada do milênio e mesmo assim com uma aritmética passível de contestação. Tivemos uma defasagem de 100 anos nesse quesito alfabetização básica e os americanos não esperaram sentados para serem alcançados, o “gap” continua, porém, mais sofisticado. Algumas escolas nos dias atuais incluem a matéria improvisação no curriculum escolar, e os garotos saem com essa bagagem.
A maioria de nossos brasileirinhos sem formação adequada desde o nascedouro, quando adultos e em cargos gerenciais confundem improvisação com “jeitinho brasileiro”, e pior, sem qualquer base conceitual ou prática muitos se consideram gênios. E seguem cantando a música de Zeca Pagodinho “Deixa a Vida me Levar”, é triste!
Como melhorar nossa performance?
  • Se aquilo que você decidiu falar não agregar valor, é melhor ficar quieto.
  • Se você estiver “escutando” e já preparando mentalmente a resposta, preocupadíssimo com o que irá falar, você não estará “escutando com critério”, ou seja, você está prestando mais atenção na sua reposta do que na fala da outra pessoa. Sua aprendizagem será mais difícil.
  • Para improvisar, olhe para o passado, analise, pense nos erros, associe ideias, associe conceitos, associe “cases” similares, leia muito mais do que você escreve, escute muito mais do que você fala, observe, pratique e tente improvisar.
  • Se tiver que improvisar e concluir que errou, o minuto seguinte é fundamental. Ele faz toda a diferença entre chorões e lutadores. Haja, tome uma nova decisão na sequência!
  • As pessoas improvisam ao nosso redor a todo instante, é preciso sabedoria e capacidade para encarar esse fato. Se nós não aceitarmos os novos cenários que se formam, vamos nos afastando.
Feliz Páscoa!

Você também pode ler essa coluna diretamente no Jornal Tribuna Liberal, clicando aqui.

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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