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Vale a pena investir no interior paulista? – Jornal Tibuna Liberal – 12/03/2017

Sim. Por quê? Vamos fazer uma digressão: o Brasil colonial nunca exerceu um papel de protagonismo na história mundial, a submissão a Portugal deixou-nos com um papel secundário, terciário, quaternário, e condenados ao ostracismo. E se as centralidades locais brasileiras eram atrasadas, o interior do país vivia alienado.

Há de se lamentar a expulsão dos holandeses de Salvador em 1624 – 1625 e posteriormente de Olinda e Recife entre 1630 – 1654, até hoje os nordestinos sobem nos ombros de Mauricio de Nassau (cognominado “o Brasileiro”) para enxergar um pouco adiante já que ele lhes trouxe os primeiros progressos planejados principalmente para Recife.

Outro personagem que os brasileiros deveriam render alguma homenagem (e não fazem) é Napoleão Bonaparte, ele forçou Dom João e sua corte portuguesa a atracarem no Brasil em 1821 e o Rei trouxe para cá parte do desenvolvimento do 1º mundo da época, foi um salto quântico.

Com a concordância da independência do Brasil por parte de Portugal em 7 de setembro 1822 foi-nos imposto pagamento por esse ato, e segundo o historiador Boris Fausto ficou inaugurada a dívida externa brasileira junto aos ingleses, ou seja, emprestamos ouro dos ingleses e pagamos Portugal pelo Grito do Ipiranga.

O primeiro império, as regências, e o segundo império se arrastaram até a Festa da Ilha Fiscal em 9 de novembro de 1889 (na minha época de ginásio conhecida por baile das calcinhas), e aí não teve outro jeito senão em 15 de novembro de 1889 convidar um monarquista para proclamar a República. A República destituiu a monarquia, e a população só ficou sabendo da notícia da proclamação dias mais tarde, além disso só conseguimos confeccionar uma bandeira com “layout” razoável quatro dias mais tarde, ou seja, 19 de novembro. Como somos criativos comemoramos as duas datas até hoje, 15 e 19, e não nos surpreenderia se algum político solicitasse o dia 19 para ser incluído no calendário de feriados nacional.

Muito se estuda sobre o Brasil até a república, mas poucos foram os avanços e giramos sempre no tripé: monocultura, latifúndio e mão de obra escrava. Algo digno de nota nesse período é o fato do Brasil ter mantido seu território unido e mantido a unidade linguística. Hoje viajamos 8.000km e falamos: Boa Tarde, e o sujeito, responde: Boa Tarde! E muita gente acredita que não se faz necessário aprender inglês, é uma pena!

Na República da Espada, e na República Velha pouco evoluímos, em 1930 temos a Revolução quando o protecionismo aos latifundiários do café já se encontrava insustentável devido a nova classe média e o operariado reivindicativo que se formava. Com a crise internacional do café somos forçados a olhar com atenção para o mercado interno e promover a substituição das importações de bens industriais de consumo, e após atitudes políticas vacilantes foi finalmente apontada a mira para incentivos à industrialização! Ufaaa! O Brasil começa a produzir aço, e a II guerra mundial vem nos ajudar nesse desenvolvimento. Vargas conseguiu grandes empréstimos com a posição de remar na II guerra (depois de indas e vindas) ao lado dos americanos, assim a agricultura perde espaço no PIB, cai em 1940 para 57% e a indústria sobe a 43%. Hoje (2017) os empresários da indústria FIESP choram e se lamentam pelo patamar de participação no PIB  < 12%.

Em 29/10/1945 Vargas é deposto e restabelece-se os três poderes que vemos no Jornal Nacional diariamente, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário e geramos a Constituição de 1946. Em 1950 Vargas retorna ao poder com o monopólio estatal do petróleo e restrições ao capital estrangeiro, e para os trabalhadores amplia os direitos trabalhistas e o direito de greve, saiu morto e conhecido como “pai dos pobres e mãe dos ricos”. Motivos: Vargas se afastou dos EUAs, não agradou a maioria dos trabalhadores, nem tão pouco aos empresários agrários, e muito menos aos militares. Suicidou-se em 24 de agosto de 1954. As questões trabalhistas e a soberania sobre o petróleo continuam na pauta do dia.

De 1945 a 1964 temos a República Populista, após a morte de Vargas em 1955 capitais maciços entram no país, 50 em 5, e apontamos erradamente a bússola de um país de dimensões continental para a indústria automobilística, em detrimento ao transporte ferroviário, pagamos esse pato até hoje e esse péssimo legado ainda será transferido para a próxima geração.

De 1964 a 1985 temos o regime militar, em que pese as agressões aos direitos humanos do ponto de vista de desenvolvimento o Brasil cresceu.

É importante mencionar que em 1992, temos o advento mundial da Internet e aqui está o pulo do gato para os países mais atrasados, a internet possibilita encurtar as distâncias e ter no interior do país o mesmo nível de informação/conhecimento que um morador da capital. É verdade que se não sabemos aproveitar as oportunidades o atraso continuará, hoje (2017) se discute a Iot (internet das coisas) e o Brasil parece dormir.

Desde a descoberta do Brasil a população cresceu para 207 milhões de habitantes, e grandes centros como São Paulo, se assemelha a outras cidades mundiais como Paris, Londres, Nova York, etc…ou seja, não há espaço para a indústria de grande, médio ou pequeno porte nessas cidades, a exploração imobiliária não as viabiliza. O Dr Zero Cost fez algumas pesquisas de preço do m2 e concluiu que em São Paulo em bairros como a Lapa que abrigam algumas empresas o valor do m2 atinge 6 vezes o praticado a 120 km da capital. Além de outras variáveis, exemplo, o trabalhador qualificado prefere ganhar até 20% menos e trabalhar no interior paulista do que ter subtraído de seu dia 3horas para ir e vir do trabalho, qualidade de vida está no cardápio das pessoas.

Atualmente cidades brasileiras com mais de 150.000 habitantes e menos de 500.000 habitantes podem e devem ser um filão para milhares de PME´s. É lógico que alguns empresários sempre irão chegar na frente, e os que vem atrás podem ter barreiras intransponíveis para superar, é o jogo mercadológico. Num exemplo, a Havan – Grupo nascido em Brusque – Santa Catarina está nessa trilha de explorar as cidades interioranas há algumas décadas e parece não arrependida.

O ponto aqui é, se o município possui renda per capita interessante, ou mesmo se a cidade não é rica, mas o PIB regional é interessante ela deverá atrair essas empresas. É uma plataforma para as autoridades municipais enxergarem essa possibilidade atual e atrair legalmente essa indústria através de um plano de ação e atitudes proativas & eficazes. Num exemplo, o PIB da Região Metropolitana de Campinas é 1/3 da Região do Rio de Janeiro, mas a RMC está a 100km da Grande São Paulo e se somarmos os 2 PIBs (Grande SP + RMC) atingiremos algo como 3 vezes o PIB da região do Rio de Janeiro que não possui espaço físico para crescimento, de um lado temos o Atlântico e do outro as montanhas.

De modo pragmático os custos de uma PME são mais baixos no interior paulista do que na capital para a grande maioria delas, é necessária sabedoria para aproveitar essa janela, é necessário demonstrar esse modelo para aqueles que se encontram por lá e esse é momento. Por que? Porque na crise não se aumentam as vendas (ou o esforço é muito oneroso), mas pode-se baixar os custos! E erros históricos já cometemos o suficiente. Sim. Vale a pena investir no interior paulista.

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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