Da porteira para fora (118) – Jornal Tribuna Liberal de 01/09/2019 – Quero Vender Mais 7.
Na semana passada criamos um questionário com perguntas para direcionar a INOVAÇÃO nas empresas e nos chegou a seguinte indagação: E o Brasil? Como o Brasil pode inovar?
O Brasil antes de inovar, precisa saber onde está e para onde deseja ir!
(o personagem Alice do livro “Alice no País das Maravilhas”, perguntou: Gato Cheshire, pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar? Isso depende muito do lugar para onde você deseja ir – Disse o Gato. Eu não sei para onde ir! – Disse Alice. Se não sabe para onde ir, qualquer caminho serve. – Disse o Gato Cheshire).
Até o final da década de 1980 o Brasil não sabia corretamente sequer qual era o déficit público. Outro problema que enfrentávamos: quando os dados se tornavam confiáveis e divulgáveis havia a defasagem, o PIB do ano fechado podia ser divulgado no segundo semestre do ano seguinte. Ou seja, se alguma medida de correção de rumo devesse ser tomada, Inês já era moribunda. O IBGE ganhou e perdeu importância na divulgação desses números abrindo espaço para o BC – Banco Central, o que se traduz em NFSP – Necessidades de Financiamento do Setor Público, juntadas as informações da SRF – Secretaria da Receita Federal e da STN – Secretaria do Tesouro nacional – aqui reside toda a nossa amargura! Déficit!
Quando queremos saber a situação de uma empresa, de uma família, é importantíssimo saber qual é o montante da dívida e se há condições de pagá-la. Sem essa premissa não vamos longe, esse é nosso problema fundamental, nos perdemos com notícias e discussões muitíssimos menores e deixamos os elefantes passarem.
Sem dúvida não basta o empresário se dedicar a inovação e o governo gastar do outro lado. Desde 2015 as contas do governo não estão bem (para não sermos muito rigorosos), então, por mais bravatas e discursos demagogos que se façam sabemos que a recuperação da economia será lenta – não nos iludamos. Caso o governo consiga equilibrar suas contas por consequência nós aqui no baixo clero iremos vender mais, lucrar mais, investir mais, inovar mais e, o motivo é simples, o governo paga suas dívidas com o nosso dinheiro, se ele está “sem dívidas” não há razão para aumentar os impostos e, portanto, deve deixar nossa rotina empresarial cada vez mais simples.
Para facilitar, ou deixar mais claro o déficit do governo brasileiro, convencionou-se dividi-lo em 3 déficits; o (1) Déficit Operacional, o (2) Déficit Nominal e o (3) Déficit Primário. Acreditamos que essas nomenclaturas são criadas para complicar o entendimento do público em geral.
Poderíamos resumir essa história; (1) Déficit Operacional é aquele comum nas empresas que não estão dando lucro porque as margens não cobrem os custos. Ou seja, fabrica-se o produto por 10 e vende-se por 8, há um (1) Déficit Operacional de 2. Aqui não consideramos correção monetária ou juros.
O (2) Déficit Nominal é aquele comum nas empresas que não estão dando lucro porque as obrigações (por exemplo, junto a bancos, empréstimos, juros, correção monetária) comem forte parte da receita. O governo, em tese, poderia arrecadar mais para pagar sua dívida, mas a economia simplesmente não aguenta! Os produtos e serviços no Brasil já são onerosos, se os impostos aumentarem as vendas despencam e muito provavelmente os produtos e serviços importados tornam-se extremamente mais atrativos, hoje, a grande maioria já é. Além disso o governo irá arrecadar menos.
Como o governo deve muito, ele calcula o tal do (3) Déficit Primário, que é mais ou menos assim: Como seria a minha vida se eu não tivesse que pagar juros e muito menos correção monetária referentes a minha dívida! É o reino encantado da Carochinha. Em alguns anos ele conseguiu o superávit primário, o que é bom, mas não resolve o nosso problema. Ou resolveria se ele não devesse tanto em juros.
O governo paga muito pelos juros. Por quê? Porque não consegue cobrir seus gastos com a arrecadação de impostos, então, ele lança mão dos títulos públicos que pagam bons juros, as pessoas (rentistas) compram e, o dinheiro retorna para ele cobrir seus próprios gastos. Os analistas econômicos todas as manhãs em programas matinais especializados aconselham os investidores, invistam em Títulos do Tesouro Nacional, rendem isso, rendem aquilo. Ou seja, aconselham o financiamento do governo, quando deveriam aconselhar o saneamento das contas públicas e o investimento em quem produz. Então, para essa corrente não arrebentar, o que faz o governo? Os títulos vão vencendo e ele vai emitindo novos títulos, rolando a dívida. É como se o seu vizinho lhe devesse 1.000,00 (um mil reais) e no dia do vencimento ele pedisse mais um ano para pagá-lo, só que irá pagar-lhe 1.050,00 (um mil e cinquenta reais) daqui a 12 meses – E você concorda. Agora, segue um recadinho para os rentistas de plantão, não se assustem se os juros no Brasil chegarem a menos de 5% ao ano no final de dezembro de 2019 e as aplicações bancárias renderem “peanuts”.
Resumindo; a metodologia do governo: (1) Déficit Operacional, verifica quanto deve e expurga a correção monetária e a correção cambial, (2) Déficit Nominal, passa a régua, soma tudo, verifica quanto deve e verifica o tamanho da encrenca, (3) Déficit Primário, verifica quando deve e retira dessa conta os juros e a correção monetária (o governo adora esse cálculo).
Bem, e como estamos?
Temos muitos técnicos especialistas em Dívida Pública, mas quando o país irá melhorar? O déficit do governo é proveniente, ou melhor, inclui seus atores. Quem são eles? A União, os estados, os municípios e as empresas estatais. Em setembro de 2019 já teremos 13 ministérios sem dinheiro, o órgão dedicado a infraestrutura um dos que mais interessa ao empresário, pois, com uma boa infra os custos podem baixar – é um dos mais críticos, já comprometeu 99,9% das despesas deste ano. Para 2019 o déficit fiscal permite um rombo de R$ 139 bilhões de reais, como ficará esse déficit sem um crescimento do PIB? Aonde o governo poderia mexer para diminuir o déficit público e melhorar a rotina do empresário e dos trabalhadores? O que diria o Gato Cheshire? A conclusão deixo para os leitores da coluna. Outras questões são perfumarias. E, que pulse o bom senso. (Continua na próxima semana).
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