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Da porteira para fora (203) – Jornal Tribuna Liberal de 18/04/2021– A Circulação Dupla.

O que é a circulação dupla? E, por que não fazemos algo parecido aqui no Brasil? Temos experiência em canibalizar. O índio canibal é aquele que após vencer seu oponente o devora acreditando que irá incorporar suas forças e seus conhecimentos. Em 1922, na semana da arte moderna conhecemos a antropofagia pelas mãos de Oswald de Andrade. Incorporar a arte europeia e dar uma roupagem brasileira.

A circulação dupla é a “nova” política aprovada pelo Politburo chinês para encarar as brigas comerciais com os EUA e sair lá na frente, …muito na frente.

Nossa geração se acostumou a ver o EUA no topo do mundo, nossos bisavós ainda pegaram a decadência dos ingleses e a passagem do bastão para os americanos do Norte.

Os ingleses estiveram com o bastão desde a revolução industrial iniciada em 1775 com a invenção da máquina a vapor pelo inglês James Watt (1736 – 1819) que a tornou eficiente e revolucionou a sociedade mundial.

O reinado inglês começou com a máquina a vapor que veio para substituir a força bruta do cavalo, eles inventaram o trem. Ali, a Maria Fumaça queimava o carvão, esquentava a água, gerava o vapor e com ele direcionado movimentava as rodas do trem. Os ingleses tiveram seu período de glória, a força de um cavalo está presente entre nós até hoje, utilizamos essa medida, é comum irmos a uma loja e o vendedor dizer:

-Veja, esse motor é de um CV.

Ou seja, 1 CV é igual a 1 Cavalo Vapor, em outras palavras esse motor realiza o trabalho de um cavalo. Ou se preferirem um outro vendedor:

-Veja, esse motor é de um HP.

Ou seja, 1 HP é igual a potência de 1 cavalo, ou, um “Horse Power”.

Descendo na escala cronológica, antes da invenção da máquina a vapor, por aqui, fomos descobertos pelos portugueses em 1500 (assim, nos convenceram), – eles dominavam os mares com seus barcos leves. Aprendemos na escola sobre o Tratado de Tordesilhas, onde os donos do mundo eram Portugal e Espanha, que reunidos numa cidade hoje de 9000 habitantes, a cidade de Tordesilhas na Espanha, dividiram o mundo em duas partes, traçando uma simples linha vertical.

E, a China nessa época? A China entrou na divisão e ficou do lado dos portugueses. Quando Portugal dominou 50% do mundo, a cidade de Macau foi colonizada e governada por portugueses desde 1535 até 20 de dezembro de 1999 quando passou a ser administrada pela República Popular da China (fundada em 1949). Observemos que em 2049 a República Popular da China fará 100 anos e o objetivo é se tornar a potência número 1 do planeta, é só procurar na internet.

Vale dizer que marcamos a data de 221 a.C. para a unificação da China, um grande reino ou império. O controle burocrático daquela China foi através da escrita e uma ideologia “estatal” com bases nos ensinamentos de Confúcio. Observe, “estatal”.

Vejamos, quando Cristo nos visitou o Estado chinês já havia se formado há mais de duzentos anos. Esse fato deve ser respeitado, é óbvio que podemos tecer muitas críticas sobre a mão forte desse Estado, mas não podemos negligenciar o aprendizado dessa administração.

Hoje, quando levantamos a bandeira, “Menos Brasília e Mais Brasil”, calma, será que o Estado não deve intervir na economia? Sim, defendemos que sim. Qual Estado? Um Estado paquidérmico, um Estado chinês, obviamente que não. Defendemos um EE- Estado Empreendedor e não um EP- Estado Produtor, mas um EI- ESTADO INDUTOR. Um Estado indutor inteligente.

O Estado chinês foi forjado em outros moldes, não podemos comparar alhos com bugalhos, mas, lá na China, hoje, com 1,5 bilhão de habitantes as pessoas não passam fome, nós aqui “neoliberais de carteirinha” com uma população de 214 milhões de brasileiros temos no mínimo 15 milhões de brasileiros passando fome todos os dias.

Será que aparecerá entre nós alguém, uma criança que seja, e diga: “Olha, olha!  O rei está nu.”

Independentemente do regime, esquerda, direita ou centro essa situação não pode ser aceitável por nenhum ser humano. Um faz churrasco e outro morre de fome, ou de SARS-2! Há no Brasil uma bolha de 1/3 da população que vive num mundo, e 2/3 que pertencem a outra classe social são os indivíduos, é a velha distinção “pessoas” e “indivíduos” ambos ocupando o mesmo espaço.

O que fazer?

A Arábia Saudita a partir de 2024 não mais aceitará filiais de multinacionais e sim exigirá que elas transfiram suas sedes regionais para lá, assim, desenvolverão suas engenharias locais. Ou seja, a miopia de exigir empregos e cobrança de impostos das multinacionais está terminando para aqueles que tardiamente acordam.

Devemos nos referir a China, analisar o que é bom para nós e canibalizar, ela nos deixou invenções que empurraram a sociedade para frente, exemplo, o papel, a bussola, a pólvora. Mas, recentemente, veja, a cidade de Shenzen, na década de 70 era um vilarejo de pescadores, posteriormente foram instruídos e conquistaram novos empregos e essa pequena cidade se tornou o vale do silício da China.

Hoje, a China espalha ao mundo sua política da “Circulação Dupla”, ou seja, fortalecer a classe média chinesa para que ela consuma e exportar com base no crescimento da indústria chinesa.

E, nós? Por que não invocar Oswald de Andrade e canibalizar uma política que fortaleça a indústria local, exija dessa mesma indústria exportações de bens e serviços? Acreditamos que como resultado teremos o aumento da renda per capita de nosso povo.

 

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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