Artigos Publicados na Mídia Impressa

Da porteira para fora (176) – Jornal Tribuna Liberal de 11/10/2020 – Roubando o Futuro. Parte 2

Estamos roubando o nosso futuro e parte da fatura já chegou. Se somos jovens, ou velhos arrogantes e podemos desfrutar de um corpo sadio não implica concluir que essa máquina seja indestrutível. Não implica concluir que ele não precisa de cuidados astutos e constantes. Não implica concluir que essa miopia é válida somente para pirangueiros.

Se podemos destruir nossas florestas e arrecadar uns trocados no presente, isso não implica concluir que não iremos precisar de ar puro e água pura no futuro, além da nossa biodiversidade.

Se podemos votar em qualquer um, ou mesmo não votar isso não implica concluir que não iremos pagar um preço por essa irresponsabilidade; basta olhar para o passado do Brasil e constatar o atraso que nos metemos em comparação a outras nações. Há quantas décadas somos prisioneiros da renda média?

Uma espiadela no passado, lá atrás podíamos reclamar das imposições da Coroa de Portugal:

  1. A cana de açúcar, cultivo iniciado em 1533 por São Vicente a mando do Rei, a cana fixava o homem na terra além de render bons lucros para a matriz,
  2. Os ingleses mostraram ao mundo a Revolução Industrial de 1775 com a criação da máquina a vapor, e o que fizemos nós? “Optamos” pela cotonicultura, produção de algodão para suprir a indústria têxtil inglesa e lá fomos nós plantar algodão. Com a independência dos EUA, cortando os vínculos com a pátria mãe a Inglaterra, os ingleses ficaram sem o algodão, e o Brasil viu suas encomendas crescerem para suprir o mercado inglês (uma história que se repete). Fomos muito bem, exportávamos quase 100% para as tecelagens inglesas.
  3. Posteriormente, foi a nossa vez de nos tornarmos independentes da pátria mãe, e aqui começa nossa total responsabilidade por ações pouco inteligentes.

 

Abriu-se finalmente a janela, fábricas têxteis foram instaladas no Brasil através de benefícios fiscais. As estradas foram melhoradas, principalmente as ferrovias, o que era óbvio considerando as dimensões continentais do país, depois tivemos um ataque “relinchante” e abandonamos esse tipo de infraestrutura.  Hoje, choramos os erros (uma história que se repete).

 

Somos craques em monocultura e continuamos com o algodão em 2020. E a indústria têxtil: falida? Sim, falida. Atualmente, países como China, Indonésia, Malásia e Coréia do Sul são nossos bons clientes para o algodão (uma história que se repete).

  1. Depois veio o ciclo da borracha, 1879 e 1912, e um rescaldo de boas vendas entre os anos de 1942 e 1945 suprindo as carências decorrentes da segunda guerra mundial 1939 – 1945.
  2. O café, sim, começamos contrabandeando grãos da Guiana Francesa (ninguém comenta muito o fato, afinal…), o grande ciclo ocorreu entre 1800 e 1930, começamos em pequenas propriedades no Norte do país, até chegarmos no oeste paulista em 1870, aqui presenciamos o crescimento das cidades de Campinas e Ribeirão Preto.

A quebra da Bolsa de Nova York em 1929 ajudou a afundar os preços internacionais do café, e lá foram os produtores encarar a quebradeira geral (uma história que se repete).

Após a crise de 1929, o governo estudou diversas medidas a serem tomadas para evitar que os produtores de café ficassem vulneráveis a crises internacionais futuras (aquele foi o nosso COVID – 29). Então, o sr. Getúlio Vargas busca uma saída, não podemos depender da monocultura?! Eureca?! E o Estado num lampejo de luminosidade assume o papel de empreendedor (1930). Uma política industrial, louvado seja!

Hoje, outubro de 2020, estamos aqui, exportando petróleo, soja e minério de ferro. Commodities! (uma história que se repete).

E os outros países? Bem, ahh sim, exportam conhecimento. Será que eles estão todos errados? Quem irá sobreviver em condições sustentáveis no futuro? Nós? Como? E, não nos esqueçamos de fechar as portas da CEITEC – (A CEITEC é uma empresa de semicondutores que atua em projeto e fabricação de circuitos integrados (CIs) e no pós-processamento de wafers. Além dos circuitos integrados, o portfólio de produtos inclui módulos e tags de identificação por radiofrequência (RFID) para aplicação em diversos segmentos, quem for curioso procure por ela na internet).

Como nos sentiremos quando o futuro chegar? Difícil de responder, fácil de prever (uma história que se repete).

Roubar o futuro significa nos igualar a pedras rolantes! Elas, as pedras, seguem ao leo, ao sabor das águas e dos ventos. Como nos sentiremos?

A regra é clara Arnaldo, estaremos no futuro por conta própria, uma visão piorada de “Mad Max”. Lembremos, ninguém esbraveja quando implora por uma refeição, ou se impõe ou fala alto, a humildade cairá sobre aqueles que tiveram o riso fácil e o deboche afiado. Talvez, esse seja o aprendizado.

A vida fácil só existe em contos da carochinha, é preciso trabalho inteligente para eleger, para criar, para sobreviver, para progredir. Monocultura não é sinônimo de inteligência.

Qual a sensação de termos roubado o nosso futuro e depois viver sem rumo? Ali parados aos milhões, sem trabalho, sem casa para morar, sem perspectivas, cercado por delinquentes? A mãe Terra terá secado por aqui, adeus petróleo, adeus minério!

Sim, estaremos sozinhos, uma pessoa desconhecida, um país alheio, “Just Like a Rolling Stone – Bob Dylan”.

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

Comente

Comente

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Categorias

Arquivo

RICCOL Sistemas

Pular para a barra de ferramentas