Vamos tratar de “regressão à média” praticada por pessoas e de forte influência nas empresas!
Tema brilhantemente explorado no livro Rápido e Devagar – Duas Formas de Pensar, Thinking, Fast and Slow (em inglês), publicado em 2011 por Daniel Kahneman resumindo pesquisas realizadas com o seu parceiro já falecido Amos Tverstky sobre a compreensão comportamental.
Em linhas gerais no que tange a “regressão à média” podemos comprovar que as pessoas possuem um determinado desempenho médio para uma determinada atividade, seja ela qual for. Portanto, é relativamente fácil classificar o desempenho de um elemento “qualquer” numa situação selecionada.
Pensemos num jogador de futebol, podemos medir seu desempenho numa temporada através de passes certos, assistências, gols feitos, tempo de permanência em campo etc. esses cálculos classificarão esse atleta dentro de um determinado “ranking” em comparação a outros atletas. Suponha que a média de gols por partida na temporada desse mesmo atleta seja de 0,8 gols, ou seja, ele precisa de mais de uma partida para fazer um único gol em média.
Agora, suponha que numa determinada partida ele faça 5 gols, ou seja, ele atingiu um patamar 5/0,8 = 6,25 vezes superior à sua própria média. Qual é a conclusão? Esse atleta é o “cara”? Ele estava endiabrado, na próxima partida ele fará no mínimo 4 gols? Devemos recompensá-lo financeiramente por esse feito?
Vamos fazer um comparativo com nossos colaboradores, suponha que calculemos a média de vendas de um determinado vendedor escolhido aleatoriamente dentro do nosso time de vendas, e essa média seja de 1000 peças por mês (só um exemplo), no entanto, num determinado mês esse mesmo vendedor vendeu sozinho 10.000 peças no mês, e aí? Qual a conclusão? Esse é o “cara”? Ele estava endiabrado, no próximo mês ele fechará um mínimo 6.000 peças? Devemos recompensá-lo financeiramente por esse feito?
O que Kahneman e Amos nos provou e depois outros estudiosos comprovaram a mesma tese é que esse atleta ou esse vendedor voltarão para o seu padrão médio de gols ou de vendas. Não houve nada de excepcional no feito desses elementos, a matemática prova que há uma inércia natural para que eles voltem para suas médias históricas e conclui-se que os feitos obtidos foram fruto de uma série de fatores que combinados resultaram em números excepcionais, pura obra do acaso. A matemática explica os pontos fora da curva, nos dois extremos, é a sorte ou o azar.
Então esse atleta sempre voltará à sua média? Depende. O segredo para melhorar o desempenho está em elevar a média. Esse é o pulo do gato. Como? Através de treinamentos e trabalhos em campo, elevando a média as chances na obtenção de melhores resultados crescente melhorarão.
Outro exemplo empresarial interessante está relacionado com a gestão de pessoas, suponha que um de seus funcionários faça num determinado assunto uma “besteira”, você vai lá e lhe faz um sermão e observa que no próximo episódio esse fulano melhorou. Quem foi o responsável por essa melhora? O sermão? Não.
Cálculos matemáticos demonstram que seu funcionário não melhorou por causa do sermão, simplesmente retornou à sua média histórica, e a bronca não ofereceu nenhuma valia consistente, embora “pareça” que as coisas melhoraram. Portanto, é comum escutarmos do CEO, chamei todos e fiz um sermão, agora, as coisas estão melhorando. Ledo engano ou engano alegre (tradução do Latim).
Assim, podemos concluir que a recompensa para fatos excepcionais isolados pouco ou nenhum benefício trará para as cias.
É lógico que existem diversos fatores para um desempenho excepcional, por exemplo, técnicas que um vendedor estuda e desenvolve constantemente, a sua própria saúde, o bom humor, o conhecimento de seu mercado, o próprio mercado, a política etc. mas existe aquele componente “sorte” ou aleatório que ocorre, ele estava no lugar certo, no momento certo, com a pessoa certa.
Alguns autores sugerem que analisemos os grandes acontecimentos de nossas vidas e que façamos a pergunta: por que “raios” aquilo deu certo? Veremos que foram muitas as variáveis, e por algumas razões conseguimos aproveitar. Ou seja, se alguém concretizou um ato excepcional não implica concluir que o fará novamente. E, pior, depois que o fato estiver concretizado jorram explicações do tipo: Eu sabia que isso ocorreria porque blá, blá, blá…. só baboseiras.
O que os colaboradores devem fazer é, nomear as competências que influenciam no seu dia a dia empresarial, dar uma nota, obter uma média, e comparar com o período anterior verificando se sua média está melhorando ou está estacionada. Quantos farão isso? Poucos, muito poucos! Infelizmente.
Um outro exercício para validar sua própria performance é verificar o seu passado, estamos em 2020, o que você realizou de memorável em 2019, 2018 e 2017, se não se recordar, cuidado, você poderá ser descartado numa mudança de ventos.
Quando saímos do ambiente empresarial e dissecamos o Brasil a conclusão é similar, as médias se repetem desde o final da década de 80 e continuamos observando países antes subdesenvolvidos estarem muito a nossa frente, no entanto, preferimos colocar atenção na “mulher mexerica” e nos divertir, estamos mantendo a nossa baixa média.
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