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Da porteira para fora (07p) – Jornal Tribuna Liberal – 16/07/2017 (Era Juscelino)

Você é político?

Estamos revendo os nossos erros históricos e comparando com os dias atuais (2017), e estamos enroscados nas décadas 60 e 70 do século passado, então, aproveitaremos esta incursão ao passado e abrimos aqui um parêntesis para um posicionamento do Dr Zero Cost sobre o endeusamento ao presidente Juscelino Kubistchek (1956 – 1961), slogan: “cinquenta anos em cinco”. Será? Digamos, bem-intencionado, mas errou.

Sim, o sr. Juscelino Kubistchek é um dos grandes de nossa história e sempre será. Ocorre que o Brasil é um país de dimensões continentais e apostar no transporte rodoviário não foi a ação das mais acertadas, abrir as portas do país às montadoras de veículos em detrimento da ferrovia deixou-nos vários passos atrás na história do desenvolvimento da infraestrutura. Como consequência temos até hoje despesas e custos altos para as PMEs por falta desta infra. Além da abertura mercadológica tivemos a criação de Brasília o que acarretou investimentos pesados, ou seja, duas variáveis importantes no retrocesso.

Dê poder a um único homem e sua cabeça conduzirá todo um povo até onde ele entenda ser correto, vejam o sr. Donald Trump escreveu a palavra “covfefe” no twitter em 31 de maio de 2017, e pronto, daqui a pouco teremos uma nova religião de seguidores do “covfefe”, e sabemos que em inglês ou qualquer outra língua deste planeta não há significado para “covfefe”.

Essas tribos que se formam a todo instante na Internet são ajudadas pelo afastamento da academia, comunidades com o mesmo objetivo não são problemas maiores, pois, a pluralidade de pensamentos é o oxigênio da democracia. Ocorre que a referência que deveria ser a academia deixou uma lacuna sem se contrapor a essas tribos, assim, muitas destas tribos se apossam de conceitos errados e proliferam sem qualquer base conceitual comprovável. Este é um passo perigoso para a irracionalidade. A academia responsável maior por esticar os limites do conhecimento deveria estar mais próxima da sociedade civil e do empresariado que não possui recursos para investir em pesquisas.

Assim de posse de ideias Yankees o sr. Juscelino Kubistchek ajustou sua mira apontada para os americanos do Norte, ou seja, vamos trazer para o Brasil a televisão e o automóvel. E Brasília surgiu de uma pergunta feita por um eleitor quando Juscelino estava em campanha na cidade de Jataí, ele comprou a ideia e a levou até o fim. Essas ideias, ou sugestões de mudança da capital do Brasil nos acompanham desde o descobrimento, e lógico, cada um puxando a brasa para sua sardinha, os inconfidentes, por exemplo, queriam São João Del Rey. Existem muitos motivos defensáveis para à época de JK tirar a capital do Rio de Janeiro, mas é preciso olhar para o bolso e ver se tínhamos capacidade financeira para dar aquele passo. Bem, se a capital estivesse ainda no Rio de Janeiro, imagine o que o Sérgio Cabral teria feito! Enfim, mudamos e pagamos o preço da mudança.

Mas, e a ferrovia? A salvação da lavoura! É verdade, a Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima – RFFSA vinculada ao Ministério dos Transportes foi um belo jardim que não recebeu água, foi criada pela Lei nº 3.115, de 16 de março de 1957 no governo de JK (um avanço), consolidando 18 ferrovias regionais. Em 1996 a RFFSA era a maior rede do país, algo como 73% dos 22 mil quilômetros instalados (isso é muito pouco para o Brasil), mas já em 1992 se estudava sua privatização, e sua extinção ocorreu definitivamente em 1999, decreto n. 3.277 de 7 de dezembro. Um País com 7491 quilômetros de extensão de litoral e 8.516.000 Km2 de área com firmes apostas em montadoras de automóveis, o que é isso companheiro? A China com 9.597.000 Km2 de área em 2016 estava com 124 mil Km de linhas férreas dos quais 22 mil Km em alta velocidade, transportando cerca de 1 bilhão de pessoas. O Brasil fechou 2016 com 29 mil quilômetros de ferrovia e algo inferior a 2 milhões de passageiros transportados. Que tal, será que estamos atrasados? Será que precisamos de um plano de longo prazo para a infraestrutura? Será que precisamos de parceiros estrangeiros para colocar suas poupanças aqui na infra? Hoje viajamos por diversas cidades onde as linhas da RFFSA foram desativadas e o que encontramos? Invasões e favelas, são áreas sob as quais as prefeituras não possuem autonomia e o governo federal se debate com uma massa falida da RFFSA, um imbróglio. A causa da falência da RFFSA foi senão outra o excesso de burocracia, regulamentações, e investimentos aplicados sem critério de continuidade. No período militar de 1980/1985 o investimento foi de R$ 1 bilhão, 1985/1990 quando nós os civis assumimos caiu para R$ 200 milhões, e entre 1990/1995 para R $ 50 milhões. (fonte René F. Schoppa – dir. da RFFSA). E pensar que o sr. Irineu obteve o Decreto n. 987 em junho de 1852 para construir a 1ª estrada de ferro no Brasil por iniciativa própria e crença no futuro deste meio de transporte relativamente óbvio num País com esta dimensão. Se o Barão De Mauá acordasse hoje (2017) ele não acreditaria no tempo pedido.

Na economia real, aquela do dia a dia, o empresário responsável financeiro por sua empresa, se ele gasta mais do que fatura para cobrir o mês deverá emprestar recursos de um terceiro, no way out. Se, no mês subsequente o buraco aumenta o emprestador irá cobrar maiores juros, o que irá tolher esse líder no que tange a novos investimentos, por exemplo: adquirir máquinas, contratar novos funcionários, etc…. Na década de 50 do sr. Juscelino (excetuando-se o ano de 1957) e na década de 60, a inflação foi sempre de dois dígitos todos os anos. Na década de 70, tivemos as crises do petróleo – veja, as duas crises dos anos 70 nos pegaram com o automóvel na rua e o trem na garagem, o que reverberou o déficit (consequência das importações do ouro negro) também para a década de 80, fechamos mais essas duas décadas com inflação de dois dígitos todos os anos.

Somente no plano real é que conseguimos reestruturar a dívida externa, sob a batuta do sr. Pedro Malan. O real foi a 10ª moeda brasileira e o plano implantado em 1º de julho de 1994, já no governo do presidente Itamar Franco e com Fernando Henrique Cardoso (FHC) como ministro da Fazenda. Observe que um macro erro na direção errada, e teremos pelo menos uma década para voltar aos trilhos, se eles existirem! E agora na segunda década do XXI, o erro de gestão da sra. Dilma Rousseff, quantos anos pela frente teremos que suar a camisa para retomar aos trilhos do crescimento sustentável? Extrapole esse conceito de erros para sua pequena ou média empresa, é simples recuperar um macro passo errado? Vamos verificar a inflação dessas décadas e confirmar como o Brasil se tornou um País rentista.

(Continua na próxima semana).

(Leia o artigo anterior)


Você também pode ler essa coluna diretamente no Jornal Tribuna Liberal, clicando aqui.

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

3 Comentários

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  • Mais uma vez com o seu artigo, enxergamos como nossos governantes têm uma visão política “curta” que vence a cada dois anos, ou seja, até as próximas eleições.
    Realmente, como um país destas dimensões e sempre muito dependente da agroindústria tenha tamanha desfaçatez com os investimentos em ferrovias.

    • Obrigado pelo comentário, vamos ver se em outra oportunidade conseguimos aprofundar esse tema tão importante para a nossa infra. Veja o aumento dos tributos sobre os combustíveis ocorrido em 21/07/2017; trata-se de uma cadeia de valor. Toda vez que sobe o combustível num país predominantemente rodoviário esse aumento carrega junto todo e qq preço que dependa de combustíveis e consequentemente um aumento de inflação.

      Um país voltado para o transporte ferroviário, tanto de carga como de passageiros sofreria muito menos com esses reajustes.

      Um excelente final de semana!

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