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Da porteira para fora (160) – Jornal Tribuna Liberal de 21/06/2020 – o PIB de novo- 2!

Por alguma razão começamos com esse tema do PIB em artigos anteriores e as perguntas chegam como numa gorda caixa registradora. Uma delas de o sr. Carlos Gama de Caraguatatuba proprietário da rede Gama de supermercados. Muito Obrigado.

Não vou colocar aqui a pergunta, pois é quase uma tese e preencheria toda a coluna. Assim, optei por concatenar algumas ideias num determinado período de sorte que faça algum sentido para o nosso leitor e conjuntamente faço uma tentativa de resposta incompleta. Vamos lá:

Lula/Dilma

Antes do PT assumir o governo em 2002 houve um plebiscito oficioso no ano 2000, patrocinado pela CNBB/PT perguntando se deveríamos ou não pagar as nossas dívidas interna e externa que comprometiam 65% de nosso orçamento com os credores internacionais. E aí tivemos as perguntas:

1) O governo brasileiro deve manter o atual acordo com o FMI?
2) O Brasil deve continuar pagando a dívida externa sem realizar uma auditoria pública desta dívida, como prevê a Constituição de 1988?
3) Os governos federal, estaduais e municipais devem continuar usando grande parte do Orçamento para pagar a dívida interna aos especuladores?

Venceu: Não pagar! O senador Suplicy defendia que os juros a serem pagos deveriam ir para as famílias e até hoje ele defende a renda básica (o Dr Zero Cost também defende a renda básica em 2020). Nesse ano (2000) as reservas brasileiras eram de 35 bilhões de dólares e devíamos 231 bilhões de dólares (hoje nossas reservas são de 340 bilhões de dólares). Os discursos inflamados diziam: É o sangue do povo indo para os países ricos. É lógico, havíamos pegado a “grana” dos caras lá fora e depois ficamos aqui fazendo conta daquilo que poderia ser feito se não pagássemos. Até eu … Brutus!

Quando o sr. Lula subiu a rampa do Planalto pela 1ª vez um dólar foi a 4 reais. Motivo? Medo dele implantar o parágrafo acima (calote), lógico. O que ele fez? Nada! Não fez absolutamente nada nessa direção (apesar das divergências internas do partido), governou sabiamente com o tripé;

  1. Regime de meta de inflação,
  2. câmbio flutuante e,
  3. superávit primário fiscal (T>G) Tributo menos Gastos primários (excluir daqui os pagamentos de juros da dívida) maior que zero, cartilha do FHC, à época fixado em torno de 3%.

Vale dizer que para ser um bom CEO ou um bom governante também devemos contar com um pouco de sorte além da competência. O sr. Lula à teve ao seu lado. Motivo: as commodities tiveram seus preços mundialmente empurrados para cima e ele soube surfar. Nosso PIB foi muito bom nos 2 períodos de o sr. Lula!

A crise mundial de 2008 na verdade ajudou o Brasil ou fez por aqui uma “marolinha”. Em 2009 o sr. Lula e o sr. Obama se encontraram em Londres para a reunião do G20 e o sr. Obama disse: “Esse é o cara”. Por quê?

a.O sr. Lula aprendera a “conquistar” financeiramente os políticos para aprovar seus projetos (poucos sabiam disso à época) até que um dia anos à frente num posto de gasolina onde havia um Lava-jato …etc… etc…

b.O sr. Obama apesar de seus 2 mandatos nunca olhou para ao Brasil ou nos ajudou firmemente, vale dizer que o sr. Obama terminou seu 2º mandato com sérias dificuldades para aprovar seus projetos. Talvez, a consciência dele tenha pesado um pouco quando proferiu aquela frase.

c.Lula havia surfado nas commodities nos anos anteriores e mesmo tendo superestimado a crise externa de 2008, seu carisma conseguiu colocar no púlpito a sra. Dilma (1º de janeiro de 2011 até 31 de agosto de 2016). Como? No ano de 2008 o sr. Lula começou abrir as porteiras dos caixas principalmente do BNDES e da CEF para que as empresas obtivessem empréstimos a juros subsidiados e levantou o PIB a 7,5% em 2010 (hoje, talvez, tenhamos esse porcentual em 2020, mas negativo). Manchete BBC da época, “PIB do Brasil cresce 7,5% em 2010 e tem maior alta em 24 anos”. Lembrando que o governo Dilma não freou esses créditos e apostou forte nesse derrame de dinheiro para o país crescer – esse foi o erro (ou um dos erros), crescer na base da canetada! Baixar preços na bravata esquecendo a lei da oferta e da demanda! Baixar tarifas de energia elétrica no horário nobre! Baixar juros na ‘porrada’!

d.Os países lá fora, em 2009, sofriam a quebra do Lehman Brothers Holdings Inc. (um banco de atuação mundial) em 2008, e o Brasil se safou dessa, perante os olhos de o sr. Obama, Lula foi ou era o cara. No entanto, o sr. Lula superestimou a crise lá fora e cometeu erros internamente, incentivando o mercado interno que já estava aquecido. Ou seja, a indústria estava no limite e ele pediu para o povo consumir, como não havia mais produção a ser ofertada, os preços subiram, as famílias se endividaram e o problema não foi mais grave, pois, estávamos a pleno emprego. Então, dívida se paga aos poucos. Muito diferente de 2020. Mas, os preços começaram a sair de controle.

A conclusão que chegamos com relação ao PIB nesse período Lula/Dilma é:

  1. A política fiscal e monetária (1º mandato do gov. Lula) foi acertada e o Brasil cresceu, empurrado pelas compras de commodities do mercado externo. Excetuando-se 2009, ano da “marolina’, em 2010 – claramente – recuperamos em V (ver gráfico), algo que não deve ocorrer em 2020/2021, teremos diversos tipos de letras, U, L, W, mas não V. No 2º mandato do gov. Lula no ano de 2008 a política fiscal e monetária começam a tomar um novo rumo.
  2. Quando o bicho papão da crise no final de 2008 apareceu o governo Lula abusou da dose do remédio e conduziu o Brasil para a UTI. Por quê? Vínhamos bem até o terceiro trimestre de 2008, aí ele incentivou o mercado interno que já estava aquecido a consumir (provavelmente esperando uma pancada maior do exterior que não veio). Errou! Os preços começaram uma escalada inflacionária, Lei da Oferta e Demanda.
  3. Mesmo diante desse erro, ele conseguiu o feito de atingir 7,5% de crescimento do PIB em 2010. A nossa situação referente ao PIB após o 4º trimestre de 2010, nunca, nunca mais foi a mesma, desde esse trimestre estamos “desgovernados”. Mesmo assim, o gov. Dilma cresceu no embalo em 2011, PIB 4,5%, … Tão longe, de mim distante….Onde irá, onde irá… “Quem Sabe?” 1859, do cancioneiro popular, letra de Bittencourt Sampaio e música de Carlos Gomes – e lá se vão 10 anos que estamos escutando blá, blá, blá.
  4. Para atacar esse tema e voltar a crescer, em 2011 inventamos a NME Nova matriz econômica(NME), ou nova matriz macroeconômica (já estamos no governo Dilma). Ou seja, o governo interveio na economia mantendo o tripé do FHC + “a variável do crédito público subsidiado”. E, aí temos o Brasil mostrando ao resto mundo mais uma jaboticaba, como se pode descontrolar uma economia. O governo entrou de vez na economia privada, mandou e desmandou. Uma espécie de reencarnação do rei Luís XIV, partimos para o absolutismo, “o estado sou eu“, o rei tinha o poder absoluto do Estado. O governo continuava a ter, por exemplo, que manter o superávit fiscal de 3% (T>G), mas agora ele manipulava os preços, dirigia os investimentos, elevava os gastos, e concedia subsídios para os amigos do rei. Essa lambança foi descarrilhando o trem que bateu na crise de 2014. O tema do subsídio que foi vasculhado pelo sr. Bolsonaro no BNDES e nada encontrou apesar dos custos da renomada consultoria – voltaremos nele na próxima matéria.
  5. Em 2011 o PIB já começa imbicar para o fosso. Reclamações dos países emergentes: havia muitos dólares no mercado mundial (derrame do Banco Central Americano) e as moedas, o Real especificamente valorizou, com isso as exportações foram machucadas.  Matéria da BBC de 07 de julho de 2011. “Mantega diz que ‘perde mais sono’ com real valorizado do que com inflação”. Isso realmente aconteceu, agora, se o Real se valoriza a economia vai ladeira abaixo? Não dá para colocar todos os ovos nessa cesta. Argumento parcialmente correto.

A situação que vivemos hoje é completamente distinta, a economia está parada! E as consequências são imprevisíveis. O PIB está despencando e precisa se reerguer, então, se o sr. Bolsonaro fosse à TV e solicitasse que as famílias consumissem (considere que as famílias são responsáveis por 60% do PIB) nós iríamos nos recuperar mais rapidamente. Aí, temos o problema do desemprego e das dívidas das famílias, como resolver isso?

Nas últimas eleições presidenciais onde venceu o sr. Bolsonaro, o sr. Ciro Gomes propôs uma renegociação das dívidas das famílias (perdão total foi o discurso), observe que independentemente de sermos favorável ou não ao sr. Ciro Gomes a ideia é boa nesse momento de 2020. Por quê? Os bancos não sabem onde colocar os lucros, se derem uma “palhinha” para as famílias, elas voltam a consumir e o PIB cresce, ao invés disso optamos pela ajuda de R$ 600,00 reais que também está correta.

Todavia, a pequena e média empresa está demitindo, como estancar esse sangramento? Induzindo as famílias a comprarem, sim, há o Pronampe – Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – mas…. o crédito não chega na ponta e as famílias estão sem recursos. Enfim, se o governo fizer corpo mole, essas empresas continuarão demitindo e quem irá pagar o seguro desemprego? Sim, se as PME´s quebram a bola retorna para o colo do governo. (continua na próxima semana).

“O povo brasileiro em tal capacidade de resistir e assimilar, cooperar, que ele está criando um Brasil de baixo dos nossos olhos. Só que isso as pessoas não veem” – Homenagem ao prof. Carlos Lessa falecido em 05 de junho de 2020 vítima do Covid-19.

(leia o artigo anterior sobre B4B)

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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