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Da porteira para fora (17p) – Jornal Tribuna Liberal – 24/09/2017 – Padrão Monetário 3.

Roberto Simonsen x Eugênio Gudin?

Roberto Simonsen pregava a intervenção do Estado na economia, e Gudin o livre mercado. Esse tipo de discussão deveríamos ter antes das eleições de 2018, um País com a indústria fraca deve pedir suporte ao governo, ou não? Na terça-feira 12/09/2017 um grupo de empresários liderados pela FIESP foi a Brasília pedir ações para retomada do emprego, entre elas, que o governo retome as obras sob sua batuta e que estão paradas. E aí! Será que o empresário brasileiro sobrevive com menos governo e mais mercado? E observe que se os juros diminuírem o mercado cresce, hoje (setembro de 2017) os fundos de pensão que devem entregar aos seus cotista em média 5,5% acima da inflação, como irão conseguir essa rentabilidade? Solução: ir ao mercado, arriscando, produzindo, se os juros baixam todos terão que praticar o TBC – Tirar o Bumbum da Cadeira e o mundo dos rentistas terá muita diversão à frente.

Roberto Simonsen

No final da II Guerra Mundial em 1948, em 25 de maio, Roberto Simonsen discursava na tribuna da Academia Brasileira de Letras em recepção ao senador belga sr. Van Zeeland e caiu morto, hoje comemoramos o dia da indústria todo 25 de maio em homenagem a este episódio e a luta de o sr. Roberto Simonsen pela indústria nacional.  Em um dos trechos deste discurso ele toca num ponto atual, ele diz: “Em contraste com o vosso (referindo-se ao vosso país – a Bélgica), os países como o Brasil, de desenvolvimento incipiente, não se podem beneficiar dos mesmos termos de uma política de liberalização do comércio exterior, que reclama, sobretudo, o desarmamento de defesas que lhes são indispensáveis nas condições atuais do seu progresso econômico. É que a participação das áreas novas no intercâmbio internacional depende do seu desenvolvimento. Só o aumento de seus capitais reais, a melhora dos seus níveis tecnológicos e, pois, a elevação de sua produtividade, lhes permitirá um aumento efetivo de seu poder de consumo, que se refletirá na ampliação de suas compras externas. Todavia, a capitalização ou industrialização desses países pode ser acelerada por dois processos:  ou por uma adequada proteção que lhe assegure o controle do mercado interno, processo mais lento e ao mesmo tempo mais rigoroso, ou pela cooperação internacional, dentro de um novo conceito de direito internacional social e sob novas fórmulas positivas de ajuda econômica, técnica e financeira, que lhes proporcionem um rápido e crescimento de produtividade”.

Ou seja, já havia a consciência de que o Brasil perdera o “bonde” da história e competir de peito aberto com os países desenvolvidos conduziria nossa indústria à falência generalizada. Fechar ou abrir nossas fronteiras para as empresas estrangeiras? Eis a questão? Qual sua opinião?

O jornalista Oswaldo Mariano e diretor da Agência Nacional, durante o Estado Novo, acompanhou por anos o sr. Roberto Simonsen, fundador da FIESP, e alguns de seus escritos podem ser encontrados na Revista Bibliográfica & Cultural do SESI – SP.

Nesta revista o jornalista que trabalhara para a censura de o sr. Vargas e aprendeu a admirar o sr. Roberto Simonsen, temos num dos trechos: “O Partido Comunista estava na legalidade. Num comício no Vale do Povo, como então se denominava o Anhangabaú, ao ser anunciada a palavra de Luís Carlos Prestes, houve de surpresa um maravilhoso espetáculo pirotécnico, que empolgou grande massa humana. Meia hora depois, estávamos em casa de Roberto Simonsen, vários amigos e alguns de seus familiares, quando chegou esbaforido o estimado padre Saboya de Medeiros, que disse: “Roberto, os comunistas estão nas ruas. Precisamos ir contra eles”. Roberto Simonsen, andando de um lado para outro, com as mãos nas costas, como era seu costume, responde pesadamente: “Contra não, padre, mas ao encontro. É só atender às reivindicações de justiça social que acaba tudo isso. Nosso povo não é comunista”.

O sr. Edgard Carone respondendo sobre Roberto Simonsen ao jornal O Estadão, escreve: “ESTADO: Por que Roberto Simonsen foi importante para a história da indústria brasileira? Carone – ….. Foi em 1901 que essa primeira geração de industriais fundou o Centro Industrial Brasileiro, em torno do qual industriais cariocas se juntaram para defender algumas reivindicações: proteção alfandegária aos produtos brasileiros, defesa da indústria para propiciar seu desenvolvimento, luta contra o câmbio livre que predominava na época. Tinham como argumento básico o fato de que países como Inglaterra, França e Alemanha adotavam proteções alfandegárias contra produtos estrangeiros”. “ESTADO: Quer dizer que esta geração não tinha uma filosofia industrial definida? Carone: Podemos dizer que essa geração era mais pragmática do que teórica, pois não tinha um pensamento industrial definido, que somente surgirá com a segunda geração, nos anos de 1920, da qual faz parte, e é seu maior representante, Roberto Simonsen”….Em outra resposta sobre Roberto Simonsen, Carone diz: “Ele não tratava de defender apenas um setor dissociado do resto. Por isso crescem em importância os seus estudos, datados de 1934-35, sobre as bases econômicas do País. Fez estudos sobre o café, que representava uma economia essencialmente agrária. No seu entender, as reivindicações do seu setor estavam ligadas às formas de desenvolvimento do País como um todo. Elas estavam associadas à questão do ensino industrial – tanto que foi um dos idealizadores do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), – À questão das reivindicações operárias, etc.…”.

O Dr Zero Cost observa que a necessidade de instrução do trabalhador vem de longa data, e continuamos tropeçando neste tema, já que a produtividade do trabalhador brasileiro é 20% de um americano do Norte (2017).

Em São Paulo as indústrias em geral operavam abaixo da Associação Comercial, e com ação de Roberto Simonsen, o conde Francisco Matarazzo, e outros fundaram em São Paulo o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo em 1928, posteriormente FIESP. Nos anos 30 o café sofre a grande crise fruto do crash da Bolsa de Nova York, no entanto, a indústria desenvolvia bens para serem consumidos localmente, enquanto o café era exportado, sem os recursos externos advindos da venda do café para o exterior, não haveria como consumir os bens produzidos localmente pela indústria, o mercado, embora, pequeno já demonstrava que o mundo já estava se inter-relacionando.

No recente livro: Juros, Moeda e Ortodoxia de o sr. André Lara Resende, podemos ler as propostas desses dois grandes brasileiros para superar a pobreza e o atraso tecnológico, observe que elas diferem, e muito:

Proposta: Roberto Simonsen Proposta: Eugênio Gudin
Planejamento Central Regras e instituições que garantam o bom funcionamento do mercado
A industrialização através da ação direta do Estado empresário Economia aberta ao comércio e aos investimentos internacionais
Economia fechada à competição externa Canalização da poupança para os investimentos produtivos, através do mercado de capitais
O Corporativismo Estabilidade monetária e o controle da inflação.

E você, qual proposta elege para o Brasil 2018?  Simonsen ou Gudin? Roberto Simonsen acreditava que o Brasil deveria ser incluído no Plano Marshall a fim de recuperar sua economia e competitividade, um sonho não realizado, de qualquer maneira venceu a proposta de o sr. Roberto Simonsen e chegamos até 2017 com um estado falido e uma indústria atrasada.

Segundo conclusão de André Lara Resende…Simonsen passou à história como um patriota progressista, o paladino da industrialização, enquanto Gudin foi tachado de tecnocrata conservador, o inimigo da industrialização e o defensor do atraso.

Eugenio Gudin

Sim, o sr. Eugênio Gudin assumiu o ministério da Fazenda e implantou sua receita, teve sua chance, um desastre. Eugênio Gudin Filho (Rio de Janeiro, 12 de julho de 1886 — Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1986) foi um economista brasileiro, ministro da Fazenda entre setembro de 1954 e abril de 1955, durante o governo de Café Filho. As medidas de Gudin levaram o País a combater a inflação, o crédito sumiu, e a recessão e a crise bancária afloraram. Assim, morre o liberalismo no Brasil. Embora, a conceituação técnica de o sr. Gudin estivessem corretas, ou seja, segurar o déficit orçamentário do governo, e limitar o crédito ao setor privado para combater a emissão de moeda, estas são medidas impopulares que os governos no Brasil relutam em aceitar e é mais simples viver da poupança externa quando ela está disponível do que cortar na carne.

(Continua na próxima semana)

(Leia o artigo anterior)


Você também pode ler essa coluna diretamente no Jornal Tribuna Liberal, clicando aqui.

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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