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Da porteira para fora (292) – Jornal Tribuna Liberal de 31/12/2022 – Comunicação ruim 01!

Imaginemos o padre Manuel de Nóbrega se despedindo de seu chefe Inácio de Loyola -canonizado em 1622, deve ter sido assim:

:-Sr. Loyola muito obrigado pela oportunidade.

:-Não agradeça a mim, agradeça ao rei dom João III. Vá e envie-me cartas sobre o andamento de sua missão nessa terra além-mar.  Quando você parte?

:-Em breve senhor, com Tomé.

:-Você está com alguma dúvida sobre sua missão? Lembre-se: Nosso lema é Ad maiorem Dei gloriam (Para a maior glória de Deus), realizar o trabalho missionário, dar assistência a enfermos e acatar solicitações do papa.

:-Estou consciente, senhor.

:-Então, que Deus esteja convosco.

(O pregador jesuíta Nóbrega, pressupomos, foi suscinto e partiu, afinal era gago. E, não há registros se ele levantou o tema salários nesse encontro e nem mesmo se o seu plano de saúde cobriria eventuais doenças típicas das floretas tropicais).

 

Vamos lembrar que a concorrência nunca foi fácil pra ninguém, a Reforma Protestante iniciada em 1527, tinha como meta o combate à reforma da qual Martinho Lutero foi o precursor (concorrência na veia), o sucessor de Martinho Lutero (João Calvino ou Jean Cauvin) é aclamado como o reformador mais importante na segunda geração da Reforma Protestante. A concorrência é algo que não deve sair de nossas pautas diárias e os meios para driblá-la variam. Calvino como protestante do século XVI sofreu influência do luteranismo, e começou a combater as práticas e ensinos do catolicismo, o que lhe rendeu a perseguição pela Inquisição (eliminação direta da concorrência). É… o Brasil era um mercado virgem para as religiões e chegar primeiro por aqui daria uma dianteira mercadológica aos pioneiros. Nóbrega foi um Bandeirante da ordem católica dos jesuítas criada por Loyola de Loila (ou Loyola em castelhano).

Vejamos que interessante, nenhum telex, nenhuma mensagem de What’s up, e muito menos um vídeozinho foram trocados entre o jesuíta Nóbrega e seu chefe. Ok, temos algumas cartas documentadas. E, por mais inacreditável que possa parecer o padre Nóbrega não conheceu o Jupyter Notebook, o Matplotlib, o Scikit-Learn e muito menos o ReLU.

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Nóbrega embarcou na armada de Tomé de Sousa (1549). Chegou à Bahia em 29 de março de 1549 e a primeira missa foi celebrada com o espírito empresarial incorporado, ele teria dito: “esta terra é nossa empresa”. Missão dada, missão cumprida, afinal ele pertenceu a Companhia de Jesus, e a palavra “Companhia” não foi colocada ali ao lado de Jesus à toa.

 

Nóbrega e o Marquês de Pombal, sem saberem, influenciaram diretamente os meus estudos, séculos depois desses dois homens terem existido, eu cursava o primário, e todas as manhãs antes de entrar em sala de aula, rezávamos a Ave Maria, o Pai Nosso, cantávamos o hino nacional (esse ato era influência direta de Augusto Comte) e de quebra passávamos em frente a um tanque de lavar roupas, ali, um a um mostrávamos as unhas e as orelhas para a nossa ‘amada’ professora. Caso, algum vestígio de sujidade se mostrasse presente nessas partes, ela carinhosamente nos conduzia até o tanque pela orelhinha (ela tinha predileção pela orelha direita) e fazia delicadamente a assepsia com água gelada e sabão em pedra. Tratava-se de uma cerimônia matinal marcante, e embora muitas dessas crianças já tenham passado para uma vida melhor (com certeza), não tenho registro que algumas delas tenha feito terapia. Pobre padre Nóbrega, sem recursos de comunicação fez o que foi possível.

 

Em 1759, lembremos que o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas do Brasil e mudou o ensino propagado por eles, ou seja, piorou, aliás é o que vem acontecendo de lá para cá. Não acredita? Veja a performance do Brasil quanto ao ODS de número 4, Educação de Qualidade, meta 2030! Eu já havia passado pelo primário, quando erroneamente pensei ter-me livrado das regras indeléveis dos jesuítas. A coisa piorou, resquícios do Pombal, nós, já alunos do ginásio tivemos a reza substituída por aulas de português entremeadas com as aulas de latim (imposição do Pombal do século XVIII). E, viva a escola pombalina. Estou me referindo ao Latim Clássico, até hoje arrisco, In vino veritas, “no vinho está a verdade”. Ok, confesso, talvez, a lembrança é pelo interesse etílico. Mas, estamos melhorando, dia desses ao perguntar algo via e-mail, recebi um “Naum”. Ingenuamente pensei no livro bíblico de Naum do velho testamento, mas não, tratava-se de um “Não” estilizado pelos jovens que detestam colocar o til.  Genial!

 

Hoje, rendendo graças à tecnologia e proximamente ao 5G, nossa comunicação melhorou muito. Há diversas técnicas para se transferir uma missão a um aluno ou um colaborador, nos tornamos muito mais eficientes. Ok, ao contrário do espaçamento entre os contatos de Nóbrega e Loyola, o monitoramento se tornou constante, em muitos casos é feito segundo a segundo a fim de se evitar eventuais erros. Muitas vezes tento avaliar o quanto esses sujeitos como o padre Nóbrega sofreram diante da comunicação ruim. Não é mesmo?

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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