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Da porteira para fora (190) – Jornal Tribuna Liberal de 17/01/2021 – Seringas e Agulhas.

Parte I

Suponhamos que um determinado sicrano possua recursos ilimitados em dólares. Esse sicrano tem um objetivo claro, comprar seringas e agulhas. Aí, esse sicrano contata o vizinho e inicia o seguinte diálogo:

-Oh fulano (vizinho) está aqui 5 milhões de dólares, eu preciso de 1 milhão de seringas e agulhas para aplicação da vacina contra a doença causada pelo vírus “Ignorance”. O que você me diz?

A 1ª coisa que o fulano irá pensar é: “5 milhões de dólares, aceito, importo seringas e agulhas e farei um bom lucro”.

Aí, o sicrano impõe duas únicas condições;

1. O prazo para entrega dessas 1 milhão de seringas e agulhas é curto, digamos, duas ou três semanas.

2. É fundamental que o fulano fabrique essa quantidade de seringas e agulhas localmente.

Supondo que o fulano seja o feliz proprietário de uma pequena empresa, sem a expertise na fabricação de seringas e agulhas ele declinará da oferta do sicrano. E, dirá:

– Eu não sei fabricar seringas e agulhas, nem mesmo sei por onde começar. Além disso o prazo de entrega é curto, não posso me comprometer com uma meta que será impossível de ser atingida.

Então, o sicrano diante dessa resposta decide dobrar a oferta, 10 milhões de dólares pelas mesmas 1 milhão de seringas e agulhas. Qual será a resposta do fulano?

Sim, a mesma, ele dirá:

– Não se trata de uma questão de preço, se trata de uma questão de capacidade. Eu não tenho capacidade para cumprir esse contrato, e declino novamente dessa nova oferta.

O sicrano pensa: Será que se eu tivesse proposto a compra de ventiladores pulmonares o fulano aceitaria? E, pensa: não, não aceitaria. E as máscaras N-95? Não, ele também não aceitaria essa oferta, essas máscaras obedecem a uma classificação dos EUA de filtros para aerossóis, essas máscaras protegem contra microrganismos. Ele não saberia como filtrá-los!

E, finalmente o sicrano sacramenta; melhor deixar como está.

Parte II

Agora, suponha que por coincidência esse fulano se chame: “Brasil”.

Pois é, qual seria o problema do sr. Brasil? Sim, o mercado se abriu diante da pandemia, e se o sr. Brasil tivesse solicitado 15 milhões de dólares para fechar o contrato teria logrado um bom lucro. Dinheiro não era problema, falta de capacidade para atender a demanda do sicrano, esse, sim, um tema incontornável.

Por quê? Porque o sr. Brasil não se preparou e há muito navegava somente no seu micro cosmos, olhando para o próprio umbigo estando fora das cadeias produtivas globais.

Parte III

Toda vez que idealizamos ou criamos uma empresa nosso maior problema é encontrar o comprador para nossos produtos e serviços. No caso da pandemia atual o consumidor está aí. Quem? O SUS – Sistema Único de Saúde.

E os fabricantes? Os fabricantes de produtos e fornecedores de serviços estão por aí espalhados e desorganizados cada um no seu mundinho. E o que falta? Falta a ponte entre o SUS e esses fabricantes com planejamento de longo prazo. Ela, simplesmente não existe. Ou, melhor, está por conta de um tal de “mercado”, quem for competente que se estabeleça.

Essa ponte poderia ser executada por agências de governo, com um planejamento sério para a produção local de produtos e serviços de alta complexidade.

Sim, sempre haverá aqueles que argumentarão; “Ahhh, mas desse jeito a indústria local se acomoda e não compete!”. Estamos em 2021, abra uma empresa para fazer pesquisa na internet e decida competir contra o Google. Que tal? Boa Sorte!

Será que não conseguimos driblar o protecionismo arcaico? Acreditamos que sim. Por exemplo, essa indústria local “favorecida”, deverá exportar “x%” de sua produção para merecer “y%” de contratos do governo local, caso contrário não haverá contrato local.

Estamos em janeiro de 2021, o setor de serviços, com raríssimas exceções, está cambaleando no Brasil, já a indústria tem mostrado uma boa recuperação. O setor industrial de alimentos e bebidas foi bem, gerando alta dos preços IPCA e puxando a inflação de 2020 fechada em 4,52% (acima da meta de 4%).  Sim, com o auxílio emergencial muitos dos nossos brasileiros passaram a comer e beber, isso programado por decreto e findado em 31 de dezembro de 2020.

Mas como a indústria cresceu se não há uma política de governo para favorecê-la? Sim, o dólar está nas nuvens dificultando as importações, além disso o mercado mundial sofreu um nocaute em 2020, diminuindo drasticamente a produção.

Mesmo a indústria lutando heroicamente para crescer, o histórico da produção industrial brasileira bateu 90 pontos em dezembro de 2020 (o que foi muito bom) contra 105 pontos em maio de 2011 (PIM – pesquisa mensal da indústria), outra década perdida!

Mas, seja lá como for: comemoremos, há bons ventos, no entanto, não orquestrados pelo governo. E, como lá fora a vacina corre solta o resto do mundo deve crescer mais que o Brasil, que por sua vez espera por alguma política inteligente.

 

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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