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Da porteira para fora (22p) – Jornal Tribuna Liberal – 29/10/2017 – Padrão Monetário 8.

Estamos fechando o tema Padrão Monetário Internacional, mas vale dizer que a economia não é uma ciência exata, ela depende fundamentalmente do ser humano, e este é pouco previsível mesmo vistos através de lentes de psicólogos.

Richard H. Thaler
Richard H. Thaler

Em 2017 o prof. Richard Thaler da Universidade de Chicago levou o prêmio Nobel de Economia, e após ser informado que iria receber o prêmio afirmou: “Para praticar bem a economia, é preciso ter em mente que indivíduos são humanos”. Ou seja, a economia depende do comportamento do ser humano, depende de fatores emocionais e não está restrita ao campo racional.

Escrevemos aqui que o dólar é uma moeda forte e sem lastro, e que o real é uma moeda fraca e sem lastro e sem qualquer importância no mundo. Onde está a diferença? Muitas delas nas crenças das pessoas e na irracionalidade de muitos comportamentos. Escrevemos também que os chineses crescem dentro do contexto mundial e sua moeda ganha status, assim como o mandarim.

E o Plano Brady?

O Plano Brady é considerado como o modelo que corroborou com final da crise do petróleo. À época e provavelmente ainda hoje, países pobres como o México, eram e são dependentes de seu chefe os EUA, e de os empréstimos americanos, se os americanos do Norte aumentam as taxas de juros, o México no dia seguinte sentirá na carne esse aumento e estará diante de uma recessão. Na década de 70 os EUA foram obrigados a aumentar os juros para fazer frente as importações do petróleo árabe.

Se os EUA entram em crise, automaticamente compram menos, e isso se torna uma cascata que irá bater lá no final da fila. Pobre está sempre endividado, se o crédito se esgota, todos são diretamente afetados, por tal, conhece-se a década de 80 como a “década perdida”, cada um tentando salvar o almoço sem grandes planejamentos para sair do enrosco.

Aqui no País criativo, não foi nada diferente, estávamos alavancados junto aos bancos na década de 70 e devíamos as calças na década de 80. Nesta época você ligava a TV e escutava: México quebrado, Argentina quebrada, 1982 – Setembro Negro, e o nosso Ministro da Fazenda viajava com o pires na mão, chapéu e tudo mais que fosse possível para angariar recursos e pagar a dívida. A nossa dívida era dividida em fases, buscava-se empréstimo e buscava-se o que conhecíamos como “dinheiro novo”, ou seja, esse dinheiro novo não pagava a dívida, mantinha-nos sobrevivendo. Como o dinheiro vinha de centenas (sim, centenas) de instituições financeiras, imagine o trabalho com contratos, etc…etc… Era mais ou menos como as Operações da Polícia Federal desde o início da Lava Jato, você nunca sabe em que fase se encontra, quantas já foram executadas! Para facilitar denominaram à época, Fase A, B, C, …Até que em fevereiro de 1987 o Ministro da Fazenda Sr. Dilson Funaro decretou a “moratória da dívida externa brasileira”.

O Dr Zero Cost fazia negócios com países da Europa, e funcionava mais ou menos assim, o Dr Zero Cost telefonava pra fora, e a ligação permanecia ativa por alguns segundos até ser detectado que era do Brasil, que a Cia telefônica do governo não havia pagado a conta telefônica internacional e o sinal caía. No entanto, era suficiente para a pessoa do outro lado da linha saber que o Dr Zero Cost precisava falar, assim, esta pessoa retornava à ligação, invertendo o fluxo, passávamos de “importação” do telefonema para “exportação” do telefonema, um drama. Outro exemplo, quando se viajava a negócios devia-se pagar em cash as despesas referentes a hotéis, etc…etc… De brasileiros os estabelecimentos somente recebiam em cash, e ponto!.

Em setembro de 1988 foi firmado o acordo com inovações importantes: Novos empréstimos em moeda (new money) – 5,2 bilhões de dólares distribuídos em quatro contratos:”Parallel Financing Agreement”, “Commercial Bank Cofinancing Agreement”, “New Money Bond Subscription Agreement” e “New Money Trade Deposit Facility Agreement”, ou MYDFA. /// Manutenção, no montante de 14,4 bilhões de dólares, das linhas de crédito comercial e interbancária dos projetos 3 e 4 (ou C e D) das fases anteriores. /// Conversão da dívida em “bônus de saída” (exit bond)- 1,05 bilhão de dólares conforme o chamado “Brazil Investiment Bond Exchange Agreement”, conhecido como BIB. Enfim…

Quem foi Brady?

Nicholas F. Brady
Nicholas F. Brady

Sim. Nome dado em homenagem ao sr. Nicholas F. Brady, secretário do Tesouro do EUA, por ter proposto equação para reestruturar as dívidas externas dos países na década de 1980. Recordemos que vínhamos de dois choques do petróleo, 1973 e 1979! E os países estavam endividados.

Qual foi a solução?

Aqui entraram em ação o FMI e outros bancos comerciais, a falta de liquidez era enorme. Os empréstimos tinham como objetivo dar um folego para que os países refizessem suas economias. Como? Desvalorizando moedas, aumento de impostos, e enxugamento das máquinas de governo, essa formatação trouxe algum alivio, mas não resolveu o problema. Outras alternativas foram tentadas em meados da década de 1980, aqui surgem as privatizações, e liberalização de investimentos, o que também não solucionou o drama.

Em março de 1989 por sugestão de Brady, troca-se a dívida externa de países em desenvolvimento pela troca de novos bônus, conhecidos como bradies. E segundo muitos economistas esta solução resolveu o problema das dívidas externas, acompanhada de reformas liberais em cada um dos mercados.

Em outras palavras, securitizou-se as dívidas, e dividiu-se o risco pelos países que possuíam os brandies. Muitos países ainda devem, mas de modo gerenciável. A América Latina foi a região mais envolvida com este plano. O México concluiu o acordo em 1989, a Venezuela em 1990, a Argentina em 1992 e o Brasil em 1994. Portanto, não é coincidência que o Brasil em 1994 começa a tomar um novo rumo com o presidente Itamar Franco e o ministro da fazenda sr. Fernando Henrique Cardoso.

“A dívida negociada no acordo era constituída de obrigações externas decorrentes de empréstimos de médio e longo prazos contraídos por entidades do setor público junto a credores privados, de obrigações objeto de contratos firmados em 1988, conhecidas como 1988 New Money, e de montantes relativos a juros não pagos aos credores privados por entidades do setor público. Em substituição a essa dívida, que somava aproximadamente US$ 55 bilhões, o Brasil emitiu uma série de bônus para garantir a dívida”.

E a família Dart?

Poucos ouviram falar nesta família, e a razão foi que o governo brasileiro não quis divulgar informações. Esta família estadunidense havia comprado títulos da dívida brasileira e se negou a proposta de desvalorização dos títulos, tratou-se de uma negociação dura e de meses. A Argentina não teve o mesmo comportamento, chamando de saída seus credores de “abutres” e enfrentou uma luta duríssima. Para o Brasil o tema também não foi fácil e pode-se escrever um livro ou uma tese sobre os episódios vividos com a família Dart.  Em 18 de março de 1996 foi concluído um acordo com a família Dart no qual ficou acordado que o Brasil pagaria os juros atrasados, e que o restante da dívida seria pago de acordo com as definições anteriores ao Plano Brady.

E Hoje?

Os BRICS se unem e criam um banco! Que tal? O Novo Banco de Desenvolvimento NBD, sem a presença dos americanos do Norte. Ou seja, o gato subiu no telhado! Ações podem ser executadas sem passar pela mesa do chefe americano. O conceito é juntar forças, e cooperar financeiramente para o desenvolvimento dos BRICS.

A sede fica em Xangai, por que? Óbvio, é o mais rico dos cinco países. O acordo firmado em Fortaleza, no Ceará – 2014 estavam presentes: o presidente do Brasil, sra. Dilma Rousseff, o novo primeiro-ministro indiano, sr. Narendra Modi, o presidente da Rússia, sr. Vladimir Putin, o presidente da China, sr. Xi Jinping, e o presidente da África do Sul, sr. Jacob Zuma.

O banco deve fomentar a infraestrutura de os países pertencentes aos BRICS, o valor inicial de 50 bilhões de dólares podendo chegar a 100 bilhões de dólares é um começo. O FMI e o BID ainda são as principais fontes de financiamento no mercado financeiro mundial, mas um pé na porta foi inteligentemente colocado por esses parceiros.

Distribuição equitativa de ações entre os acionistas da NBD

A distribuição atual das ações entre os países membros da NBD é apresentada na pizza acima. Cada país, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul possui 20% das ações do banco, ou seja, 100.000 ações de um total de 1.000.000 de ações, sendo 500.000 ações não alocadas.

(Continua na próxima semana).

(Leia o artigo anterior)


Você também pode ler essa coluna diretamente no Jornal Tribuna Liberal, clicando aqui.

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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