Em contato com o nosso herói em Portugal ele comentou sobre sua motivação em se tornar um “Líder”!
Os jovens de hoje cada vez mais buscam carreiras meteóricas e resultados rápidos. Talvez, seja essa uma boa característica de suas personalidades. Todavia, lideranças são forjadas quando diante de desafios o “Líder” se sai bem. Então, como um jovem poderá ter enfrentado diversos desafios e ter-se saído bem? Ele, provavelmente, não teve tempo suficiente para encarar “n” frustrações? Mas, o nosso homem em Portugal deseja ser um “Líder”. O que temos a dizer sobre isso?
Concordar com os líderes atuais e decidir que seus métodos são inabaláveis nos parece pouco inteligente, é preciso abrir nossa mente. As organizações estão em mutação, o mundo está em mutação rápida, portanto, precisamos nos adaptar aos novos cenários. Os conceitos sobre o que é liderança estão em evolução. E, aí?
Suponhamos um capitão experiente de um transatlântico, ele navega por todos os oceanos e quando iniciou na profissão ainda era imberbe e hoje, ostenta barbas brancas e compridas. Esse comandante ao ter que atracar na ilha de Ítaca (Em poemas homéricos, Ithaca geralmente identificada com a ilha de mesmo nome hoje é a terra natal de Odisseu cujo retorno para casa constitui o tema central da Odisseia) é informado sobre os muitos bancos de areia que existem no local até se chegar ao porto. Então, o capitão manda buscar um prático, um homem do local que conhece cada banco de areia, um nativo, um experiente condutor de grandes navios que navega com segurança por entre esses atoleiros e conhece como esses bancos de areia são mutáveis. O homem embarca no transatlântico e inicia o processo de ancoragem e é bem-sucedido depois de nove dias de trabalho duro.
Analisando o caso hipotético acima podemos perguntar, quem foi o “Líder” do transatlântico nos últimos 9 dias? Com certeza responderemos que foi a pessoa contratada para conduzir o transatlântico por entre os bancos de areia. Mas, e o comandante? Vamos denominar o comandante de “Gestor”. Sabemos que uma das funções do “Gestor” é ser “Líder”. Portanto, concluímos que todo “Gestor” é um “Líder”, mas nem todo “Líder” é um “Gestor”.
O nosso “Líder” se alimentou durante os 9 dias que esteve na embarcação, quem ordenou que ele fosse alimentado? O comandante (“Gestor”). O nosso “Líder” precisou dormir, provavelmente ordenou algo que causou ruído dentro da organização, quem solucionou esses entraves? O comandante ( “Gestor”). O “Líder” solicitou um pagamento pelos trabalhos realizados. Quem ordenou esse pagamento? O “Gestor”. Suponhamos que a tarefa de atracar em Ítaca amedrontou a tripulação, quem manteve o ânimo num patamar positivo? O “Gestor”.
Através do exemplo acima separamos a função do “Líder” do “Gestor” e concluímos que todo “Gestor” é um “Líder”, mas nem todo “Líder” é um “Gestor”. No nosso exemplo, o “Líder” conduziu o transatlântico para um porto seguro, sem se preocupar se a tripulação estava abastecida de água ou alimentação. Ao chegar em segurança no Porto de Ítaca todos se sentiram felizes, o “Gestor” e o “Líder”. Missão cumprida.
Essa abordagem pode orientar nosso herói em Portugal, ele pode liderar um determinado processo sem ser o “Gestor” desse processo. Em última instância poderíamos concluir que um “Gestor” que ocupe a posição máxima de uma empresa, a presidência, poderia ter um “Líder” que conduzisse a missão de levar uma empresa de um ponto A para um ponto B. Observe que conclusão interessante, se pensarmos em organizações com musculatura, podemos ter um “Líder” trabalhando à sombra de um “Gestor”.
Será que um bom “Gestor” pode não ser um bom “Líder”? No caso acima se o comandante fosse conduzir a embarcação por entre os bancos de areia teria se dado mal. Ou seja, se ele liderasse o transatlântico nesse trajeto teria sido um desastre, todavia ele não abandonou sua posição de comandante ou de “Gestor”. Se definirmos a liderança como a capacidade de influenciar um conjunto de pessoas a fim de alcançar metas e objetivos, então, o curriculum de nosso homem é o que o credencia a conduzir o transatlântico por entre os bancos de areia. No entanto, essa influência numa determinada empresa pode ser conferida a um determinado homem por imposição, basta colocar no cargo de direção um sujeito formalmente. Vale mencionar que pesquisas confirmam que cada vez mais os subordinados confiam menos em seus líderes e, trata-se de um fenômeno mundial.
O “Líder” deve executar o que for necessário para atingir o objetivo. A liderança é uma função do “Gestor”, mas talvez possamos em muitas ocasiões separar essas funções. Sabemos que ao indicar alguém para um cargo numa determinada empresa nos preocupamos com suas competências e não com os objetivos a serem atingidos. Sim, sabemos dos objetivos, mas eles são colocados num segundo plano. Um erro!
No exemplo acima o homem prático agiu praticamente sozinho, ou seja, criou um feudo mínimo dentro da embarcação, criou uma estrutura paralela para uma determinada missão que possuía um objetivo muito claro; Atracar o transatlântico em segurança na ilha de Ítaca.
Esse “feudo mínimo” dentro da organização foi contornado pelo “Gestor”. Portanto, se cada um dos tripulantes, ou cada “feudo” dentro da tripulação soubesse claramente seus objetivos e o que deveria ser atingido, o nosso “Gestor” estará tranquilo como maestro que coordenará essa orquestra fazendo com que todos atuem em perfeita harmonia e dentro do mesmo compasso.
Hoje, definimos objetivo e metas para os líderes, mas acrescentamos em suas atividades outras tantas funções relacionadas à gestão e como vimos um líder pode não ser um bom gestor. Por exemplo, um “Líder” de vendas muito provavelmente estará preocupado com o salário de seus liderados, quando na verdade essa é uma função de gestão.
Mas, o “Gestor” não é também o “Líder”? Sim, todo “Gestor” é um “Líder”, mas nem todo “Líder” é um “Gestor”. Ou seja, há aqui um nicho a ser explorado. Em alguns casos, quando conveniente podemos deixar um “Líder” atuar sob monitoramento de um “Gestor”. Já existem algumas organizações estudando modelos de gestão nessa linha, por exemplo, a organização Hélice, a organização Beta Codex, Agile etc.
O nosso homem que conduziu o transatlântico até Ítaca foi um “Líder”. E, mais, um “Líder” de si mesmo. Ou seja, para ser um “Líder” não é preciso ter subordinados, portanto, o nosso herói em Portugal, sim, deve buscar ser um “Líder” na sua função e não aguardar uma promoção para exercer a liderança.
Suponha que o nosso comandante (“Gestor”) após ter o homem prático a bordo e após esse homem dar a primeira ordem o “Gestor” ordena que ela não seja cumprida. Que tal? O que irá ocorrer? Já discutimos nessa série a resignação, ou seja, o “Líder” poderá engolir esse sapo, mas há um limite de sapos que seu estômago pode absorver até que ele abandone o transatlântico ou permaneça ali e adoeça.
Numa operação similar, suponhamos que o “Gestor” seja o presidente de uma empresa e o “Líder” o responsável por vendas. O “Líder” deverá vender um determinado produto, essa é sua missão. Aí o “Gestor” sem lhe avisar manda mudar as condições comerciais de venda desse produto, ou mesmo negocia esse produto sem avisar o “Líder”. Que tal? Mais um sapo a ser engolido pelo “Líder”!
Na outra ponta, suponha que o comandante contrate o homem e deixe-o exercer seu trabalho para atracar o transatlântico, e aí no 2º dia o transatlântico encalhe num banco de areia. O comandante ao se dirigir ao homem escuta ele dizer:
– Esse banco de areia não estava aí, mudou de posição com os ventos dessa noite.
Quantos se dizem líderes dentro das empresas e quando não atingem objetivos de suas missões encontram desculpas? Pois, é! Esse banco de areia não estava aí na noite anterior e, agora, o que o comandante fará com um transatlântico atolado? O bom da liderança é que é possível aprender, mas como sabemos nem todos desejam aprender. Ou seja, não é possível encontrar em uma única pessoa todas os traços que uma liderança ideal exige, a orientação aos líderes e futuros líderes em potencial se faz necessário.
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