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Da porteira para fora (56p) – Jornal Tribuna Liberal de 24/06/2018 –  A Travessia 7.

 

Narcisistas

No Brasil, quintal dos EUAs, damos muito valor aos narcisistas, aos autoconfiantes, e são esses que via de regra preenchem os cargos mais altos numa organização. Os vaidosos se olham no espelho e dizem “Eu sou bom? Não. Eu sou o melhor”.

Quem de nós poderia dizer: O sr. Donald Trump é uma pessoa modesta? Ou, o sr. Donald Trump não é uma pessoa vaidosa? Ou o sr. Donald Trump não faz auto promoção de seu próprio nome, de seu próprio local de trabalho, da torre Trump Tower? Pois é, toda essa auto promoção mostrou-se e mostra-se na nossa sociedade patriarcal ocidental como uma fórmula para o sucesso.

Então, devemos ou não segui-la já que todos buscam o sucesso? É fato, os profissionais mais agressivos, aqueles que se promovem em contra ponto a modéstia de outros chegam mais longe nas suas carreiras dentro de empresas. Será isso o sucesso? Diante da sociedade que criamos podemos afirmar que sim.

O narcisista demonstra chegar aos postos mais altos fazendo propaganda de si mesmo. Manter-se lá com liderados que não passam um dia sequer sem criticá-los parece não ser tão simples, além de desgastante para o nosso mito.

 

Aqui podemos citar a patologia do narcisismo, classificado como doença, ou transtorno de personalidade. Narciso foi um belo jovem da mitologia grega, que ao ver sua imagem refletida na água apaixonou-se por si mesmo. Na Grécia antiga o altíssimo apreço por si poderia ser denominado arrogância, e em tempos de dias atuais quando conhecemos a psiquiatria podemos denominar Transtorno de Personalidade Narcisista. Mas, isso não importa, afinal , o cargo mais alto do Ocidente, a presidência dos Estados Unidos da América, o homem mais poderoso e temido desse lado do planeta, e talvez do outro também, não nos parece que conheça a empatia. E ele chegou lá.

“Ich und Du”

“Eu e você”, livro escrito pelo alemão Martin Buber em 1923 apontava que os narcisistas encaram os seres humanos como objetos. Diga-me se a maioria de os grandes líderes não continuam a exercer essa filosofia?

Os líderes e mesmo os de níveis medianos nas empresas dispensam enorme energia para manter suas posições, e todos os benefícios que advém de seus cargos. Essa energia poderia ser melhor canalizada, todavia, não é simples convencer um líder a abdicar dessa luta, quando seus pares – todos eles – levantam todas as manhãs dispostos a derrubá-lo. Esse é o mecanismo, e narcisistas conseguem vitórias representativas nesse campo de batalha.

Como podemos recriminar o narcisista se ele nasceu neste ambiente, aprendeu a lutar, e teve sucesso lidando com as pessoas como se fossem objetos? Caso tivessem tomado outro caminho, o da valorização das relações, o de promover os mais competentes e não os mais políticos, talvez, não estivessem hoje em suas belas casas desfrutando de um bom vinho. E a consciência? Eles aprenderam a não considerá-la. O fato é que deixarão um legado geracional dos mais difíceis de serem equacionados.

Hoje, é comum dentro de uma organização de grande porte o gerente ou o diretor dizer: “É mais fácil vender nossos produtos para nossos clientes do que vender alguma ideia dentro da nossa organização”. Internamente a política é devastadora, e aqueles que são mais “capazes” de lidar com os reveses internos, se sobressaem (tudo bem, ninguém sai ileso de uma guerra deste tipo, nem mesmo aqueles que se acham o máximo, ou como diria Freud aqueles que o libido está em si).

Tudo que sobe,….

Todavia, tudo que sobe um dia cairá, é assim, a humanidade experimenta até os nossos tempos a ascendência e decadência de grandes impérios, mais recentemente o Império Britânico cedeu lugar para os Império dos Americanos do Norte.

Hoje, presenciamos os Americanos do Norte se movimentarem numa direção para nós pouco recomendável, mas o objetivo deles é claro: Tornar a América Grande Novamente. Como? Isolando-se. Quebrando acordos internacionais, não se interessando por blocos de países para se fortalecerem, buscando a conversa dois a dois, e se aproximando de dois dos grandes, Rússia e China. E, talvez um quarto país, aliás nós aqui na terra do futebol estamos mais acostumados ao G-4, do que ao G-7* ou G20*, no entanto, não se trata de vantagem alguma. Conseguirão executar esse movimento para manter-se no topo?

 

Não, então, qual será o próximo império a conduzir a humanidade? Tudo nos indica que será o Império Chinês. Um dos milhares de provérbios chineses que vale a pena mencionar neste texto, e que contradiz a filosofia americana é: “The loudest duck gets shot”, ou seja, numa tradução livre “O pato que voa mais alto é o que será abatido”, …cuidado narcisista.

E o que queremos para as próximas gerações, qual será o nosso legado geracional, o paradigma do patriarcado ou o paradigma cuidado?

Lares são melhores que acampamentos militares, ou como diz outro ditado chinês: Cem homens podem formar um acampamento, mas é preciso uma mulher para se fazer um lar. Queremos acampamentos ou lares? (Continua na próxima semana).

(Leia Artigo Anterior)

(Leia o próximo Artigo)

(Leia mesmo artigo no Tribuna Liberal, página 03)

 

*G20 é um grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia, criado em 1999.

*G7 O Grupo dos Sete é um grupo composto por sete países, que estão entre as maiores e mais industrializadas economias do mundo. Fazem parte do G7 : Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Japão, França, Reino Unido e Itália.

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Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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