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Da porteira para fora (185) – Jornal Tribuna Liberal de 13/12/2020 – “Família Brasil”

Recebi de o Exmo. Sr. Dr. Caio Machado a seguinte pergunta: De posse do cenário atual quais são as previsões do Dr. Zero Cost para o Brasil?

As variáveis são muitas, mas vamos ao desafio; suponhamos uma família hipotética, pai, mãe e três filhos. Suponhamos que a renda total dessa família em 2020 seja 100 (qualquer unidade). E, suponhamos que essa família consuma 5 quilos de arroz por mês.

Agora, suponhamos que em 2050 essa família seja exatamente a mesma, pai, mãe e três filhos. Suponhamos que a renda média dessa família seja desta feita de 200 (qualquer unidade). Quanto essa família consumirá de arroz?

Bem, a família dobrou sua renda de 100 (2020) para 200 (2050), há uma tendência natural que ela se alimente melhor, ou através de mais opções. No entanto, muito provavelmente consumirá menos arroz já que quando a renda das pessoas aumenta isso não implica em almoçar ou jantar duas vezes ao dia e, sim, que outros alimentos participem no seu cardápio. A quantidade de arroz consumida tenderá a diminuir.

O ano de 2050 não foi aqui escolhido aleatoriamente, sabemos que temos uma taxa decrescente da população mundial atual e em 2050 a provável estagnação da população brasileira. Portanto, alguém que produza arroz verá seu faturamento se estagnar até 2050.

A ginástica:

Suponhamos que uma determinada família denominada aqui “família Brasil” seja a produtora desse arroz, podemos antever que o faturamento da “família Brasil” não será surpreendente e com tendências ao decréscimo até 2050, pois há um limite para o consumo de arroz além de uma diminuição natural dos consumidores do além mar, uma vez que esses estarão cada vez mais ricos e sofisticados, exigindo alimentos de outras fontes.

Portanto, a “família Brasil” que somente incentiva seu agronegócio de soja, milho, algodão, e outros produtos primários como extração de ferro e petróleo verá seu faturamento cair ao longo dos anos. Em outras palavras, sua participação porcentual no cenário de comércio mundial decrescerá, não é preciso entender de macro economia para atingir essa conclusão.

Além disso vale comentar que todas essas commodities ocupam menos de 5% de sua população ativa e o restante como irá sobreviver? O restante da população se encostará no lombo do governo, ou será encostado silenciosamente em algum local incerto e não sabido – LINS.

Um erro comum de muitos dirigentes locais é entender que as desigualdades no Brasil é fruto da má distribuição de renda, errado. A distribuição de renda influi? Sim, mas é a falta de uma política para o desenvolvimento do país que gera a desigualdade.

Ahh, mas essa “família Brasil” possui outras joias da coroa, não é só o arroz. Quais? Pode-se contar na palma da mão. Peguemos a Embraer, uma empresa fantástica, com tecnologia, faturamento de bilhões de dólares. É verdade, concordamos com orgulho verde e amarelo. Agora, some o faturamento da Embraer dos próximos 41 anos (ou seja, até 2061) considerando o crescimento porcentual de 1 dígito ao ano a Embraer atingirá o mesmo faturamento da Samsung em 2020. Pois, é! Levará mais de 40 anos para a Embraer faturar o que já fatura hoje essa empresa coreana.

Vamos lembrar que a Coreia do Sul nasceu depois da II guerra mundial com a divisão dessa área entre os americanos do Norte e os russos, passou pela guerra entre as Coreias, possui hoje cerca de 52 milhões de habitantes e já é a 13ª potência econômica, trata-se de uma península nada comparável ao gigante pela própria natureza e estamos sentados no sofá vendo-os nos ultrapassar economicamente, considere que a renda per capita por lá já passa dos 35 mil dólares anuais.

A política aplicada à “família Brasil” desde a década de 80 trouxe-nos até aqui, ou seja, engaiolados na armadilha da renda média. Nossa renda média é de 15 mil dólares ao ano e mantendo-se a política atual não há como escapar da tendência ao declínio. Essa é a previsão do Dr Zero Cost. A renda média de países que conseguiram driblar essa armadilha está na casa dos 50 mil dólares anuais.

O cenário 2021 não nos induz à conclusão que nossa missão para se livrar das amarras que criamos será fácil. No entanto, é preciso discutir como o faremos! Decidido. O próximo passo será convocar os agentes sociais e demonstrar onde queremos chegar para trabalharmos juntos: mercado + empresários + trabalhadores+ universidades (pesquisas). País pobre sempre acredita que pode fazer tudo. Hipocrisia. Podemos fazer poucas coisas, atacar poucos itens e que assim seja. No entanto, sem coalizões nem mesmo poucos tópicos poderão ser atingidos.

Uma das pautas principais seria um programa para a indústria de transformação, indústria essa que elevamos a um grau de participação respeitável no PIB comparável ao mundo desenvolvido (20% a 30% do PIB) e depois a abandonamos sem antes termos desenvolvido o segmento de serviços tecnológicos. Assim, nossa renda per capita ficou aí parada e mesmo diminuiu. É como aquele fulano que possui um emprego com boa renda mensal, vem construindo um patrimônio, já se acha mais inteligente que a média e decide pedir às contas, pede demissão, e o mercado não mais o emprega. Ou seja, ele, agora, vive de economias e sua renda é inferior àquela antes da demissão.

Alguns podem argumentar; a participação da indústria de transformação caiu não somente para o Brasil e sim para aqueles países que adentraram ao mundo desenvolvido. É, verdade, mas esses colocaram algo no local, o desenvolvimento tecnológico e nós simplesmente colocamos serviços com baixo grau de complexidade.

Se essa pergunta colocada pelo brilhante Dr. Caio Machado fosse feita para Sir W. Shakespeare entre 1603 e 1606 ele (Shakespeare) responderia à “família Brasil” plagiando seu próprio personagem, o Bobo da Corte ao Rei Lear.

-Tu não devias ter ficado velho antes de ter ficado sábio.

Enfim, sejamos pacientes e otimistas que a “família Brasil” irá encontrar um caminho para se recuperar.

Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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