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Da porteira para fora (137) – Jornal Tribuna Liberal de 12/01/2020 – O próximo passo!

O Irã é a antiga Pérsia, a mudança de nome ocorreu em 1935, o idioma local é o Persa, ou seja, lá não se fala árabe. Pois bem, nas próximas semanas e meses iremos ver nos jornais e telejornais muitas notícias sobre os EUA e  o Irã. Mas, o que uma coluna dedicada a pequena e média empresa pode se relacionar com um tema bélico como esse?

O ponto é óbvio, um CEO, um proprietário de empresa, um gerente geral necessariamente precisa enxergar alguns lances à frente. Por que? Porque o que foi importante no passado pode não ser no presente e com certeza será modificado ou esquecido no futuro. Aqueles que vencerão serão aqueles que conseguirão enxergar com um pouco mais de clareza para onde os ventos estão soprando. Essas mentes privilegiadas conseguem antever alguns passos do futuro e os mais ousados conseguem moldar o próprio futuro.

Um dos gênios da humanidade Leonardo da Vinci já dizia, “The noblest pleasure is the joy of understanding”, ou seja, “O prazer mais nobre é a alegria do entendimento”.

Quando um CEO ou um presidente decide por algo ele deve ter em mente alguns passos adiante, caso contrário, a probabilidade de ele terminar num mar caótico é imensa. Quando o presidente dos EUA decidiu eliminar o sr. Qasem Soleimani  no Iraque, diversos cenários foram ou deveriam ter sido traçados, isso é o que normalmente deve fazer um diretor de empresa quando traça o seu mapa estratégico.

É verdade que as mudanças são cada vez mais rápidas, no entanto, nem por isso os piores cenários e os melhores cenários não devem ser discutidos. O motivo é simples, se o pior cenário ocorrer devemos prever que sobreviveremos a um custo suportável.

O que ocorre hoje em dia é que assistimos muitos filmes sobre super-heróis e contaminamos nossa mente com superpoderes que não temos, basta visitar o pronto socorro de qualquer hospital para encarar a realidade, ou assistir impotentes a morte de 500 milhões de animais na Austrália devido ao aquecimento global.

Os passos que os EUA têm dado frente ao Irã vem de mais de 100 anos, e lá atrás quando o Irã estava sufocado pelos britânicos de um lado e os russos de outro, para quem eles pediram ajuda? Sim, para os EUA. À época essas duas potencias dividiram o Irã em três blocos, um sob influência e domínio britânico e ali foi encontrado petróleo, o outro por influência russa e o outro para o próprio Irã. Os lucros obtidos desse petróleo pingavam miseravelmente nas mãos dos iranianos. Quando o Irã decidiu nacionalizar o petróleo (1951), que tal? Os EUA entram na jogada e derrubam o idealizador desse movimento nacionalista, o sr. Mossadegh (estudou em Paris e na Suíça se doutorando em direito).

Obviamente que essa iniciativa batia de frente com muitos interesses e o sr. Mossadegh foi deposto com a ajuda de quem? Sim, dos EUA através de seu braço Central Intelligence Agency – CIA. E aí quem governa? Sim, o sr. Mohammad Rezā Shāh Pahlavi  o Xá do Irã, de 16 de setembro 1941 apoiado por quem? Sim, os EUA. Sua derrubada pela Revolução Iraniana ocorre em 11 de fevereiro de 1979, quando retorna do exílio o Aiatolá.

O Xá do Irã sob a batuta dos americanos buscou moldar o Irã no “American style” através da tal “Revolução Branca”, modernizou a nação e até concedeu direito ao voto para as mulheres. Isso não foi bem visto pelos clérigos xiitas do Irã e mesmo os trabalhadores não aceitaram mudanças culturais tão profundas. Além da velha palavrinha que permeava a conversa entre os amigos do Xá, que nós conhecemos tão bem: “corrupção”, e aqui começa uma queda de braços interna entre o Xá e as demais forças políticas. Em 1978 o número de presos políticos já passava dos milhares, lembrando que os EUA e o Reino Unido continuavam por lá apoiando o Xá e explorando o petróleo.

Em 17 de janeiro de 1979 a coisa ficou insustentável, tivemos a revolução  e o Xá foi obrigado a deixar o Irã. Na sequência a monarquia iraniana foi abolida e o Irã foi declarado uma república islâmica liderada por Ruhollah Khomeini. O Xá, Mohammad Reza, morreu no exílio no Egito (1980), onde o presidente Anwar Sadat concedeu-lhe asilo político. Seu filho mais velho Reza Pahlavi continua por lá e governa, um governo paralelo no exílio.

Então, em 1979, é o retorno da nacionalização do petróleo, da conservação dos costumes e da religião islâmica. Estudantes vão às ruas e apoiam o novo regime contra a monarquia de Parlev. Retorna o Aiatolá Khomeini, (Aiatolá ou aiatolá é considerado sob as leis do Islã Xiita o mais alto dignitário na hierarquia religiosa, é um título dado apenas àqueles que têm merecimento, para ser um Aiatolá, além de conhecimento e discernimento, ele deve ser descendente direto de Maomé. Aiatolá significa “sinais de Alá” ou “sinais de Deus”, ele é o expoente máximo do conhecimento dentro do Islã Xiita).

À época todos queriam o retorno do Xá para que ele fosse julgado e executado. Diante desse clima em  04/11/1979 os estudantes invadem a embaixada dos EUA e fazem 52 reféns durante 444 dias. A semana passada por coincidência o sr. Trump escreveu num tuite que se o Irã retaliar os EUA pelo tema da morte do general ele (Trump) possui 52 alvos iranianos que podem ser atingidos fortemente e rapidamente. Em 1980 as relações diplomáticas foram cortadas entre EUA e Irã.

Em meio a esse caos, o Iraque viu que com os embargos americanos poderia invadir o Irã e ganhar terreno, ou seja, abriu guerra contra o Irã. Havia por parte do sr. Saddan Hussein (presidente do Iraque) o temor que os Xiitas do Irã ganhassem força e invadissem o Iraque, lembrando que o sr. Saddam recebeu apoio de quem? Sim, dos EUA numa guerra que durou 8 anos e estima-se mais de 500.000 mortes. O sr. Saddam morreu em 30 de dezembro de 2006, enforcado por ser considerado culpado pela morte de 148 Xiitas iraquianos, uma retaliação que ele havia feito contra uma tentativa de assassinato contra ele mesmo. Ele foi deposto durante a invasão liderada por quem? Sim, pelos EUA. Motivo? O ano foi de 2003 e a alegação foi que o sr. Saddam Hussein mantinha um arsenal de armas químicas e ameaçava a paz mundial. O que foi encontrado? Nada. Até hoje o clima por lá não se acertou, pois o novo governo não consegue se legitimar, as tropas internacionais chegaram ao impressionante número de 150.000 soldados para apaziguar a situação e não conseguiram, pois a presença americana “incentivou” o crescimento de grupos radicais fundamentalistas islâmicos.

Durante o embargo ao Irã e a guerra Irã – Iraque ocorre algo “bizarro”, o importante é vender, ou seja, os americanos produtores de armamentos venderam armas para o Irã, um escândalo. E para coroar a política da boa vizinhança temos o voo comercial 655 da Iran Air  que foi derrubado em 3 de julho de 1988 por um míssil a partir da embarcação USS Vincennes da Marinha dos Estados Unidos, resultando em 290 passageiros mortos, entre eles 66 crianças. Motivo: o avião iraniano foi “confundido” pelos americanos com um caça.

Em 2013 o sr. Barak Obama conversou com o presidente do Irã por telefone, tenta colocar panos quentes. E, dois anos após essa conversa o Irã aceita assinar um acordo com as 5 maiores potencias do mundo para não proliferação de armamento nuclear.

Durante a campanha para presidente dos EUA o sr. Trump escreveu um tuite que dizia, cuidado com o sr. Barak Obama ele irá invadir o Irã somente para unir o povo americano em torno de uma guerra e ganhar as eleições. Isso nunca ocorreu, mas teremos eleições para presidente em novembro de 2019 e o sr. Trump é o candidato natural.

Em 2016 o sr. Trump mudou tudo e disse que esse foi o pior acordo da história dos EUA e se retirou. A decisão de sansões dos EUA é unilateral e o Brasil não é obrigado a reconhecer.

Em 2018 vendemos 2,2 bilhões de dólares para o Irã e importamos algumas dezenas de milhões de dólares, ou seja, é um bom cliente.

A pergunta que fica no ar e para a qual teremos uma resposta em breve é: O sr. Trump como presidente possui uma estratégia de longo prazo?  Conseguiu enxergar alguns passos à frente? Ou simplesmente agiu com o fígado e lançou os EUA numa escalada sem proporções razoáveis? E para nossas empresas, temos um mapa estratégico para 2020? Estamos dando passos na direção do nosso objetivo maior? Qual é o nosso próximo passo?

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Dr Zero Cost

Dr Zero Cost por Ailton Vendramini, perfil realizador com formação na área de Engenharia, tendo trabalhado no Brasil e no exterior. Atualmente acionista em algumas empresas e foco em Mentoria & Consultoria para pequenas e médias empresas no segmento de Gestão/Vendas/Marketing/Estratégia.

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